"O bom trabalhador ama o trabalho e a semeadura assim como as colheitas”. O historiador Michel de Certeau em seu livro A Escrita da História apresenta-nos logo no inicio de seu trabalho a seguinte questão: “O que fabrica o historiador quando ‘faz história’? Para quem trabalha? Que Produz?”, tais questões são de fundamental importância na prática cotidiana do Ofício de Historiador. Elas auxiliam a reorganizar e a repensar nosso papel enquanto profissional de um lugar social.
Esses questionamentos cumprem outro papel primordial que é o de provocar no pesquisador a vontade de ir além: pesquisar e escrever mais, refletindo criticamente sobre a sociedade com a qual dialoga, onde o patoá do pesquisador representará sua relação com o lugar
Lugar este que é mediado por determinadas práticas e conceitos, que são pensado e organizados de tal maneira que muitas vezes nos esquecemos que o passado continua a contribuir com suas inquietantes colocação. Este trabalho tem por intuito pensar e argumentar sobre a questão da Cidadania e do Papel da disciplina de História, como norteadora do saber e da prática cidadã, enxergando na escola o lugar social na qual o professor de história exerce sua função.
Nesse sentido, vale ressaltar o que expõe os Parâmetros Curriculares Nacional acerca da seguinte questão: Mas afinal, o que é cidadania? De acordo com os PCNs, existem alguns eixos temáticos que devem ser trabalhados transversalmente, dentre eles apontamos os seguintes: Identidade, Gênero, Cultura e Cidadania, onde é dever da escola fazer com que os alunos, compreendam tais eixos a partir dos temas selecionados para serem trabalhados no decorrer do ano letivo. Entretanto, cabe ressaltar as palavras do Historiador Marcelo Magalhães, onde ressalta que: “[...]Compreender o significado atribuído ao conceito de cidadania nos Parâmetros não é tarefa fácil. Primeiramente, devido ao fato de não existir apenas um, mas, sim, múltiplos significados, além disso, pelo fato de sua definição encontrar-se espalhada pelos volumes dos PCN.[...]” (MAGALHAES, 2009, p. 175)
O volume dedicado aos Eixos Transversais buscam compreender
“[...] a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito [...]”(BRASIL, p. 9)
A partir de tais inquietudes, como devemos nós professores de História nos posicionar? Como devemos nós fazer a diferença para que nosso trabalho germine bons cidadãos? Será que nossos alunos compreendem que é fundamental num país soberano e democrático o exercício de seus direitos? Será que nós mesmos temos essa consciência?
Tais indagações são primordiais a todos profissionais da Educação. A escola deve ter um papel efetivamente de transformar a realidade social dos educandos, caso contrário não teria sentido enfileirar os alunos todos os dias para o ‘heróico’ ato de ensinar.
Uma sociedade democrática parte do princípio dos direitos e deveres. Parte do ideal de justiça social, e respeito aos cidadãos. É de fato papel da escola incitar a reflexão nesses temas, entretanto cabe a ela ainda demonstrar na prática a utilização de tais conceitos. Não há sentido prático para os alunos demonstrar cidadania apenas com bandeiras ou eventos cívicos. Deve-se propor atividades práticas cotidianas que demonstrem como exercer seus direitos e ainda seus deveres, estes que foram conquistados após anos de um regime ditatorial[1]. Nesse sentido, O PCN, aponta ainda que a “a noção de cidadania tem um significado preciso: é entendida como abrangendo exclusivamente os direitos civis (liberdade de ir e vir, de pensamento e expressão, direito à integridade física, liberdade de associação) e os direitos políticos (eleger e ser eleito), sendo que seu exercício se expressa no ato de votar.”(Idem, p. 20)
Tendo em vista tais posicionamentos, ao retomamos a ideia inicial do texto, fazendo a mesma pergunta de Michel de Certeau, a resposta provavelmente virá ao longo do ano letivo. O que faz o Historiador? Naturalmente cabe a esse profissional diante da gama de possibilidades apresentadas tanto pela prática pedagógica, tanto pela prática historiográfica e ainda norteado pelos Parâmetros, nada mais que fazer pensar. Pensar e mediar um bom debate, proporcionando o que muitos deixam de lado: A reflexão voltada para a Cidadania. E como bem lembra Marcelo Magalhães, “[...]Cidadania é um conceito portador de algo essencial não contingente. Os PCNs, trabalham com a ideia de que para definir o significado de cidadania é preciso refletir sobre sua dimensão histórica [...]” (MAGALHAES, 2009, p. 176) e ninguém melhor pra falar de uma dimensão histórica que o historiador.
E nós, como e quando exercemos a nossa Cidadania?
Abraços e Boas Reflexões
Notas:
[1] Sobre a temática Ditadura Militar e Ensino no Brasil, vale a pena consultar:
CORREIA, Wilson F. A Educação Moral e Cívica do Regime Militar brasileiro, 1964-1985: A filosofia do controle e o controle da filosofia. Revista Cientifica. São Paulo:v. 9, n. 2, 2007, p. 489-500.
Referências:
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília:MEC/SEF, 1998
MAGALHÃES, Marcelo de Souza. História e Cidadania: por que ensinar história hoje? In. ABREU, M. & SOIHET, R. (org) Ensino de História: conceitos, temáticas e metodologia. 2. Ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009, p.168-184
Sobre o Autor:
Prof. Gilberto Abreu de Oliveira
Graduado em História pelas FIC/FAVA
Blog. http://historiaemdebate.wordpress.com
Atua na Rede Municipal de Ensino e no Sistema Objetivo de Costa Rica MS
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