“Nossa arte, nossos monumentos literários estão carregados de ecos do passado, nossos homens de ação trazem incessantemente na boca suas lições, reais ou supostas” Marc Bloch A epígrafe acima mostra-se primordial na compreensão dos estudos em História. Perceber as permanências e mudanças por meio dos ecos do passado proporciona uma experiência válida a qualquer um que tem na História sua fonte de vida e prazer. Encontrar pessoas de ação que contem histórias num mundo como o de hoje não é tarefa fácil, uma vez que nem sempre todos os sujeitos históricos estão dispostos a colaborar, ou ainda alguns não mais estão entre nós.
As inquietantes memórias, os sentidos do passado, a alegria de cada depoente ao colaborar, as 'novidades' de tempos idos ajudam-nos a reconstruir fatos do passado, antes sem muita importância, com um status de fato histórico. A cada entrevista o pesquisador nota nas narrativas “suas lições reais ou supostas”, que compõem as histórias da cidade.
Um livro de História/Historiografia quando pensado e elaborado e depois publicado e, lido pelos cidadãos toma forma, ganha vida própria, configura-se um corpo que não mais pertence àquele que escreveu, e sim se estrutura pela ressignificação de quem o acompanha, neste caso a recepção da proposta apresenta-se também de fundamental importância. Como sabemos, a História tem a função de lembrar, preservar e registrar a memória da Sociedade. Cabe ao Historiador a função de dialogar com as fontes (nesse caso as entrevistas, recortes de jornal, revistas, fotografias) analisando-as e assim buscar fornecer explicações, ou melhor, problematizar tais explicações para a construção de uma história.
A disputa pela memória é algo fundamental quando se trate de história local, entretanto a função de uma obra que vise contar os feitos locais de fundadores e ‘desbravadores’ não deve ser a de buscar uma única e verdadeira história, mas pensar nas várias versões para a fundação e crescimento do município e assim construir mais uma versão para a História. E como já dizia um filosofo Nietzsche: “Não existem verdades, apenas interpretações”, logo, devemos tomar as obras historiográficas como mais uma interpretação que corresponde aos anseios de um tempo histórico (presente) que colabora na compreensão do processo histórico da região.
Lembrando novamente o historiador francês, Marc Bloch, “se a história fosse julgada incapaz de outros serviços, restaria dizer a seu favor, que ela entretém” ( BLOCH, 2002, p. 43). Ela realmente entretém, fascina e encanta, e esse encanto é visível quando se lê um bom livro. A leitura prazerosa e nos leva de encontro com as lições reais ou supostas de um outro tempo histórico (passado), que inevitavelmente nos influencia e nos cativa, pelo fato de ter acontecido e marcado, e mais que isso por ter ficado nas muitas memórias que aqui se apresentam como elementos fundamentais na interpretação do passado. Abraços e boas reflexões!
Prof. Gilberto Abreu de Oliveira
Graduado em História pela FAVA – Cassilândia MS
Professor da Rede Municipal de Ensino e do Sistema Objetivo de Ensino – Costa Rica
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