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05/07/2009
"PDT não quer ser caudatário do poder"
“Sou do tempo da política romântica”, define João Leite Schimidt, presidente de honra do PDT de Mato Grosso do Sul. Saudoso da época em que a população se apaixonava pelas eleições, Schimidt não quer mais concorrer a cargos públicos, porém não abandonou a política. Hoje, emprega a experiência adquirida ao longo de 16 anos de mandato e de cargos importantes – foi três vezes secretário de Estado, além de conselheiro do Tribunal de Contas – para ajudar o partido a definir estratégias eleitorais e formar novas lideranças. Schimidt está convencido de que o PDT pode crescer nas próximas eleições se tiver coragem de se indignar contra o poder e traçar um caminho que o leve de volta ao centro das decisões.
Ao receber a equipe do Midiamax para a entrevista em seu escritório no Centro da Capital, Schimidt avaliou que o PDT, apesar de aliado ao governo de André Puccinelli (PMDB) não faz parte do poder. “Ele [André] talhou o governo para ele e para poucas pessoas”. Para o pedetista, o estilo pessoal do atual governador provocou o que ele chama de Queremismo, mas, desta vez, o movimento não é pela volta de Getúlio Vargas, mas clama pela ex-governador Zeca do PT.
Midiamax - O PDT já chegou a ter oito deputados estaduais, hoje tem quatro, qual é a estratégia do partido para crescer nas próximas eleições?
Schimidt - Primeiro eu queria dizer que quem está fazendo eleição fora do tempo é a mídia porque para a Justiça Eleitoral, a eleição começa depois das convenções. Mas, evidente que como a política desperta grande interesses, grande paixões, nada mais justa do que especular bastante sobre política. Agora, sobre a questão partidária, a estratégia do PDT nestas eleições é traçada pela Executiva do partido. Não faço parte da Executiva. Porém sou um militante. O que é que nós pretendemos nestas eleições? É natural que se discuta as alianças, mas eu acho que o partido tem que ter capacidade de se movimentar sozinho, atraindo alianças e ele mesmo chefiar o processo. Mas, normalmente quem atrai alianças é quem está no poder. Aqui em Mato Grosso do Sul, o PMDB é quem detém uma certa hegemonia nesta questão de alianças, porque tem a prefeitura da Capital e o governo do Estado. Estes poderes, prefeitura e governo do Estado, funcionam como a lâmpada que atrai as mariposas. Fica muito difícil os partidos se juntarem para formar a aliança, mesmo porque de modo geral se acostumaram a ser caudatários [indivíduos servis] de quem detém o poder.
Midiamax -E a estratégia?
Schimidt - A estratégia do PDT sempre foi disputar as eleições, com candidatura própria. Em Dourados nós disputamos as eleições três vezes até vencermos com Ari Artuzi, em Campo Grande lançamos o Doutor Loester e o Dagoberto Nogueira. São eleições difíceis nas quais se concorre em desigualdade, mas nós não temos medo. Nestas eleições de 2010 continua o mesmo sentimento de candidaturas próprias. O partido já tem matriculados pré-candidatos a deputados estaduais, federais, senador e, possivelmente, poderá ter até candidatos a governador. Isso não é jogar conversa fora, porque que nós já tivemos candidato a governador [em 2006, o partido rompeu com Zeca e concorreu com Moacir Kohl]. Eu mesmo já fui candidato a senador. A disputa é que mantém a seiva da vida. Você não pode transformar o partido em caudatário de outro. Você tem que desconfiar que o regime democrático funciona de maneira diferente. Você tem que entender também que os mandatos são eventuais. O fundamental da república é a alternância de poder.
Midiamax - O partido se sairia melhor se disputasse o governo do Estado em 2010?
Schimidt - Eu não posse dizer que vai ter candidato, mas este é o pensamento, a cultura do PDT é disputar eleição. Evidente que nós estamos mirando o melhor projeto para Mato Grosso do Sul. No momento, tem duas candidaturas postas, a reeleição do governador André Puccinelli [PMDB] ou a volta do Zeca do PT. O que move a reeleição do André é a manutenção do poder. O poder esculpido à sua face e semelhança. Talvez não seja muito do agrado do povo. Eu observo um certo Queremismo em relação ao Zeca. O Queremismo é aquele movimento que aconteceu com Getúlio Vargas quando ele deixou o poder e o Gaspar Dutra se elege. Vargas vai para São Borja [RS] e fica lá. Aí, o Samuel Wainer excelente jornalista faz uma entrevista com ele e nasce o Queremos Getúlio, ou o Queremismo. Vejo este Queremismo também a respeito do Zeca. Já vejo até alguns adesivos, volte logo. É um movimento que preconiza a volta do Zeca, naturalmente com saudade dos programas sociais, dos programas de inclusão social, da participação da classe política no poder, da formulação de políticas públicas. Então tudo isso gera uma possibilidade dele disputar até com êxito o governo do Estado.
Midiamax - Mas o PDT quando se define? Schimidt - O PDT vai cuidar disso no ano que vem. Como já disse o presidente Ary Rigo e é ele quem fala pelo partido, o PDT só deve mexer com política no ano que vem. Mas, nós estamos nos preparando. O Dagoberto está bem situado nas pesquisas pode disputar o Senado que é uma eleição majoritária. Ele é uma liderança expressiva em Campo Grande. Podemos mirar a prefeitura de Campo Grande, na sucessão do Nelsinho, com o próprio Dagoberto.
Midiamax - Como o senhor mencionou, hoje são duas candidaturas ao governo já postas. Se tivesse que escolher entre uma e outra, o que seria decisivo, o projeto para o Estado ou o candidato que oferecesse melhores condições para o PDT crescer nas eleições?
Schimidt - O PT está no nosso arco de alianças, sempre esteve. Não é uma novidade. Qual é a cultura nossa de partidos pequenos e médios é fazer aliança com o poder porque assim tem mais possibilidades, potencialidades e recursos para campanha. É até um contra-senso você falar com vai fazer aliança com quem está não poder, mas, o PDT tem esta capacidade de se indignar. O PT está no nosso arco de alianças, sempre esteve. Você não se esqueça que o Carlos Lupi, ministro do Trabalho é do PDT. Para esta situação descer para cá não é muito difícil não.
Midiamax - Em recente entrevista ao Midiamax, o prefeito de Dourados Ary Artuzi disse há uma tendência petista no PDT e PR da cidade. Isso é resultado do jeito André de governar?
Schimidt - Eu acho que o Artuzi tem uma avaliação muito grata do Zeca, porque ele não foi lá fazer campanha contra ele, embora o PT tivesse candidato a prefeito. O Zeca tinha a expectativa de que o PT fizesse uma boa aliança com o PDT.
Midiamax - Mas, esta tendência petista nas bases é realmente verdadeira?
Schimidt - Há uma tendência nas bases de voltar ao poder. Hoje, o PDT não está no poder.
Midiamax - Hoje, o PDT está na base do governador André Puccinelli. Há quatro deputados estaduais que votam a favor do governador, mas as bases já fazem oposição. Como a cúpula lida com isso?
Schimidt - Não é uma coisa estranha. O PDT não é só a bancada da Assembleia, nem só a Câmara Federal. Talvez seja um dos poucos partidos com boa militância. Estamos investindo muito na militância. Temos os grupos de bases. Casa de base tem cinco a 21 membros. Temos também o movimento sindical, afinal somos trabalhistas, criamos uma secretaria executiva dos aposentados, movimento das mulheres, movimento negro e a juventude socialista do PDT. Então, estes movimentos e a juventude socialista é que representam a vanguarda do partido. A Assembleia às vezes se acomoda tendo como principal objetivo votar o orçamento. E nos intervalos do orçamento faz só política, dá nome a rua, dá nome a estrada, dá nome a prédio e concede título de cidadania. É um período pobre. O grande dever da Assembleia é votar o orçamento do Estado. Fiscalizar a aplicação do orçamento e denunciar as mazelas, os desvios de conduta do Executivo. Este é o principal papel do Parlamento, não precisa ser base de governo e nem oposição para fazer isso.
Midiamax - Falando da Assembleia, o senhor inclui também a bancada do PDT na lista dos acomodados?
Schimidt - Todos. Todos. E não é só aqui. Eles se acomodam porque saem de uma eleição já vem outra eleição, na qual ele tem que movimentar suas bases eleitorais. Então, eles são movidos por este sentimento eleitoral. Para atender suas bases, eles ficam reféns do governo. Mas, os movimentos de base do PDT não dependem de governo. Aí está a militância que tem capacidade de se indignar. Estes movimentos é que estão sustentando a candidatura do Dagoberto ao Senado.
Midiamax - Se é assim, os movimentos podem guiar o PDT para o lado petista que é o que Dagoberto quer?
Schimidt - Isso não está nem oculto. É o que está acontecendo, todos estão vendo. Para frear isso aí, o governador tinha que ter começado definindo a participação dos partidos políticos em sua reeleição. Ele poderia dizer, por exemplo, que o PDT teria o Senado, o PR a vice-governança, o PSDB teria apoio para o Serra. São apenas exemplos. Mas, quando o governador não discute política não chama pessoas para ajudar a definir o seu governo, ele acaba definindo tudo sozinho, e aí complica. Por isso deste movimento nosso que não depende de governo e o Zeca começa a crescer.
Midiamax - Então André Puccinelli está repelindo seus aliados?
Schimidt - Sem dúvida. Este estilo de governador dele é muito pessoal. Ele talhou o governo para ele e para poucas pessoas.
Midiamax - O Dagoberto diz que com Zeca, o PDT era mais feliz.
Schimidt - Era mais feliz e sabia. O pior é que sabia.
Midiamax - O senhor pode voltar ao cenário político no ano que vem?
Schimidt - Não. Eu parei. Eu só concorri ao Senado em 2006 para ancorar o programa de televisão se não aquele tempo em TV era redistribuído entre os outros partidos. Outro motivo foi dar unidade à campanha proporcional. Os nossos recursos foram todos carreados para eleger o Dagoberto.
Midiamax - O senhor encerrou sua vida pública porque achou que já era hora ou porque a política hoje está muito diferente?
Schimidt - É muito diferente. Eu tive 16 anos de mandatos. Mudou muito.
Midiamax - A política hoje é mais suja no seu ponto de vista?
Schimidt - Não quero entrar neste mérito. Fui deputado federal, duas vezes deputado estadual pelo Mato Grosso, fui deputado estadual aqui. Exerci as funções de chefe da Casa Civil, Secretário de Justiça, secretário de Fazenda, Conselheiro do Tribunal de Contas, então eu passei por todas as funções posso avaliar como era e como é.
Midiamax - Mas qual é diferença entre a política de antes e a de agora?
Schimidt - A política que eu fiz era mais romântica. Havia participação popular muito intensa. Você fazia um comício não tinha mídia eletrônica, não tinha todo este aparato moderno. Então havia uma participação popular muito intensa, as pessoas se apaixonavam pelas eleições. Tive alguns mandatos ainda no regime da ditadura. O Parlamento não mexia com o orçamento. Não podia apresentar projeto que representasse despesa. Era um exercício muito limitado. Você tinha que legislar mesmo. Tinha que estudar, se preocupar mesmo. Era preciso ser muito talentoso para se sobressair. Hoje não é assim. O que a gente observa é que o processo eleitoral não tem nada a ver com o regime democrático. Quem tem mais condições de fazer captação de votos com dinheiro se elege. Aquele romântico que pensa que seu programa vai atrair votos perde. E não critico só o político, quem vende voto também é criminoso. Isso virou cultura. Como é que eu vou me meter nisso. Eu gosto de política. Faço política do mesmo jeito, só que como militante sem disputar eleições. Acho que vou criar até um movimento de velhos no PDT [risos].
Midiamax - Mato Grosso do Sul tem uma características de sepultar lideranças que ainda tem vida útil na política. O eleitorado do Estado é um pouco ingrato?
Alessandra Carvalho
Schimidt - Não é isso. É que Mato Grosso do Sul ainda não formatou sua elite, nem econômica, nem social e nem política. Você tinha cultura que é a capital é Cuiabá, lá estava toda a cultura, os intelectuais, a Academia Mato-Grossense de Letras e Instituto Histórico-Geográfico e os intelectuais cunharam que o mato-grossense era o cuiabano. Ninguém sabia nem onde era Cuiabá, mas havia uma elite lá. No momento em que nós dividimos nos estamos num processo de formação de lideranças. Isso não é uma coisa simplória de se alcançar.
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