O delegado da Polícia Federal Luís Flávio Zampronha, que investigou o caso do mensalão por quase seis anos, afirmou que chegou a pedir ao Ministério Público Federal a prisão do empresário Marcos Valério e do contador dele, mas o requerimento "parou" na Procuradoria-Geral da República.
Segundo o delegado, "um dos problemas foi a perda do fator surpresa e a possibilidade de usar técnicas de investigações como a interceptação telefônica".
Não foi possível surpreender os envolvidos porque o caso veio à tona após uma entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson à Folha, em junho de 2005.
De acordo com o delegado, a Polícia Federal pediu à Procuradoria a prisão de Valério, apontado pela acusação como operador do mensalão, e do contador dele pois os dois estariam destruindo provas do esquema.
Os requerimentos desse tipo tinham que passar pelo Ministério Público antes de chegar ao relator do caso, o ministro do STF Joaquim Barbosa. Porém, a Procuradoria não levou o pedido de prisão adiante, segundo Zampronha. No comando de uma equipe com mais quatro delegados e quatro peritos, Zampronha diz que também teve dificuldade para rastrear o destino do dinheiro que circulou pelo chamado valerioduto.
Segundo o delegado, os maiores valores foram repassados a líderes partidários e a partir daí distribuídos em espécie, tornando muito difícil a identificação dos beneficiários finais.
A reportagem procurou o Ministério Público Federal, mas a instituição não se manifestou sobre as afirmações de Zampronha até a publicação da reportagem.
Valério diz que o dinheiro movimentado era para pagar dívidas de campanhas, e não comprar parlamentares, e teve origem legal. |