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22/11/2008 - 08:23
Mulheres transformam lixo em qualidade de vida
Foto: Minamar Junior
Campograndenews
Árvore gigante consumir centenas de garrafas brancas.
Árvore gigante consumir centenas de garrafas brancas.
Em menos de um mês, a vida de 23 mulheres da periferia de Campo Grande mudou. Com um material que para algumas pessoas é lixo e teria como destino o meio ambiente, elas estão melhorando a renda e vida.

Todos os dias elas se reúnem num barracão localizado nos fundos do Centro de Capacitação Profissional do bairro Parque do Sol. No local, elas transformam garrafas pet - feitas de plástico politereftalato de etila, em enfeites de natal.

São árvores enormes, anjos, guirlandas, velas e até tuiuius e capivaras, entre outros objetos com motivos regionais e natalinos. Todos tomam forma aos poucos, com muito capricho. Elas recortam, furam e moldam os recipientes, montando verdadeiras esculturas, algumas com mais de 3 metros de altura, como a árvore de natal.

De tanta atenção e cuidado, as esculturas são confeccionadas em posição que leva em conta a preocupação de não acumularem a água da chuva quando expostas a céu aberto, para que não se tornem criadouros do mosquito da dengue.

Jaqueline Teixeira da Silva, 40 anos, integra o projeto. Além de ter convidado o grupo todo a participar da experiência, dá aulas de alfabetização às mulheres. “Começamos no início do mês com 25 mulheres e fizemos dois dias de capacitação. É um projeto que envolve toda a comunidade, pois percorremos o bairro recolhendo as garrafas”, revela.

Três participantes tiveram de sair por problemas de saúde, o resto segue determinado, empolgado, com esperança de melhorar de vida. “Para fazermos a árvore de natal foram 3,8 mil garrafas; o anjo está sendo feito com 600 e a vela com 200. Está ficando lindo!”, afirma.

Segundo Jaqueline, em São Gabriel D’Oeste, onde originou-se o projeto, dez mulheres foram empregadas pela prefeitura local para, durante o ano todo, desenvolverem os enfeites da cidade na época do natal, que já viraram atrativo turístico. “No dia 29 vamos até lá, conhecê-las e trocar experiências”, adianta ela.

Maria Luzinete dos Santos, 71 anos, mora no Dom Antonio Barbosa, bairro pobre conhecido em Campo Grande por manter o “lixão". Ela tem sete filhos – o mais velho tem 42 anos, e o mais novo, 36. Há 13 anos perdeu o marido, a morte tirou a graça da vida, lembra. “Hoje estou bem feliz, encantada!”, diz ela, em relação ao novo trabalho artesanal que foi trocado pelos bordados. “Em apenas um dia, o grupo aprendeu tudo com a professora”, conta, sorridente.

Nas ruas - O projeto é executado através das parcerias da Caixa Econômica Federal, Prefeitura de Campo Grande, Prefeitura de São Gabriel D’Oeste e ONG Moradia e Cidadania, e tem como objetivo principal a qualificação profissional e geração de emprego e renda às famílias em situação de vulnerabilidade social, priorizando jovens e mulheres chefes de família.

As peças montadas pela comunidade serão utilizadas na decoração natalina dos altos da Avenida Mato Grosso, mas as técnicas utilizadas no projeto poderão também ser utilizadas em outras ocasiões como carnaval, decoração de vitrines, painéis de mídia, confecção de mascotes, por exemplo.

Jaqueline espera que após a exposição dos trabalhos, que será feita em breve na superintendência da Caixa Econômica Federal em Campo Grande, o projeto seja bem divulgado e alguma empresa demonstre interesse em patrociná-lo. “Queremos que no futuro tenhamos um patrocínio para trabalhar o ano todo com uma renda fixa. Seria interessante trabalhar com esse material em carros alegóricos de escolas de samba”, sugere ela, de olho no carnaval.

Desta forma, o pequeno grupo de mulheres demonstra que, em uma época tão cheia de desigualdades sociais e de intenso desgaste dos recursos naturais, bastam um pouco de criatividade, trabalho e dedicação para melhorar o mundo, tanto social quanto ambientalmente.



    
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