Jéssica Rosa, que mora em Colombo (PR), foi a Santa Maria homenagear o namorado, morto na tragédia Este sábado foi um dia de reencontro entre uma jovem que sobreviveu ao incêndio na Boate Kiss, em 27 de janeiro, e a cidade de Santa Maria (RS). Foi a primeira vez que Jéssica Duarte da Rosa, 20 anos, voltou ao município depois de ter saído viva da tragédia. A garota, que mora em Colombo (PR), na região metropolitana de Curitiba, prestou homenagens ao namorado, Bruno Portella Fricks, 22 anos - ele chegou a ser retirado com vida da casa noturna, mas morreu em Porto Alegre seis dias depois. "Vim para Santa Maria para homenagear o Bruno e para reforçar que a tragédia não caia no esquecimento", disse a jovem. Jéssica reviu amigos e familiares de Bruno. Ela abandonou o curso de administração na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para se mudar com os pais para o Paraná, e agora vai frequentar um curso pré-vestibular a partir de julho.
O detalhe é que Jéssica só vai assistir às aulas, sem poder escrever. Por causa das queimaduras que sofreu, ela mal consegue mexer o braço direito. A jovem também carrega marcas nas costas e nas pernas, resultantes do inferno vivido na boate em 27 de janeiro.
Jéssica ficou dois dias internada no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) de Porto Alegre, e depois foi transferida para o Hospital Cristo Redentor. No total, foram 30 dias de internação, 25 deles em UTI. Hoje, ela tem um rotina que inclui fisioterapia respiratória e motora todos os dias, além de hidroterapia e consultas com pneumologista, nutricionista e nefrologista. A jovem disse que não viajou a Santa Maria para participar de protestos por justiça. Mesmo assim, ela não deixou de opinar sobre o fato de quatro réus terem ganhado a liberdade após uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS). "É um absurdo. Tivemos 242 mortos e mais de 600 feridos, e ainda soltam os caras. Quantos precisam morrer para eles prenderem? Eu quero justiça, mas não só para aqueles quatro réus, mas também para a prefeitura e os bombeiros", disse Jéssica.
Ela concluiu dizendo que o episódio da Kiss deve servir de lição para todos que saem à noite. "Não é para deixar de sair, mas se conscientizar de onde está indo", afirmou. Jéssica também visitou o Cemitério Santa Rita, onde Bruno foi sepultado.
O namorado de Jéssica morreu no dia 2 de fevereiro, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, mas Jéssica só ficou sabendo sobre a morte de Bruno após cerca de 15 dias, depois de acordar e perguntar por ele. O rapaz havia se formado em administração em 2012 e trabalhava na empresa América Latina Logística (ALL), em Santa Maria.
Um grupo de mais de 100 pessoas foi a Santa Maria para homenagear Bruno. Havia pessoas dos municípios gaúchos de Westfália, Júlio de Castilhos e Novo Hamburgo. Todos fizeram uma caminhada silenciosa da praça Saldanha Marinho até a Catedral Metropolitana, no centro de Santa Maria. No local, foi realizada uma missa em memória do rapaz. Para a celebração religiosa, familiares e amigos levaram rosas em homenagem a Bruno.
Rosane Portella Fricks, mãe do jovem, não quis participar de outra caminhada que familiares de vítimas da tragédia fizeram na tarde deste sábado, para pedir justiça. "Eu quero justiça, sim, não só para os quatro que estavam presos, mas o pacote todo (prefeitura de Santa Maria e bombeiros). Mas hoje, eu quero fazer uma homenagem com amor. Porque o Bruno era muito amor", disse Rosane.
A mãe de Bruno passou os dias seguintes ao lado dele no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O jovem morreu no sábado, 2 de fevereiro, mas ela teve a oportunidade de se despedir de Bruno dois dias antes. "Na quinta-feira, conversei com o Bruno, e ele fazia sinal com a cabeça. Disse para ele que fosse em paz, que um dia nós iríamos nos encontrar, mas que, neste momento, minha missão era ficar aqui, para cuidar do pai e da irmã dele", revela Rosane. |