O setor sucroalcooleiro enfrenta uma das maiores crises da história. Endividamento, perda da competitividade diante da gasolina e até problemas climáticos afetaram os usineiros.
Desde 2007, 58 usinas fecharam as portas só na região Centro-Sul do país. E só neste ano 12 encerraram as atividades. Com isso, nos últimos dois anos, o setor de açúcar e etanol já perdeu 60 mil empregos.
Nossos repórteres foram ver como está a situação de quem depende da cana-de-açúcar em Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo.
São Paulo
São Paulo produz 60% da cana do país. Nos últimos quatro anos, 26 usinas foram fechadas no estado, cinco só na região de Ribeirão Preto (SP). Milhares de trabalhadores perderam o emprego e outros setores sentem o reflexo da crise.
As máquinas não param porque é preciso colher a cana que foi plantada. Mas nas usinas, o ritmo é outro. Uma delas não suportou a crise e fechou há três meses.
"É a pior crise e não sai dela. No ano passado, a gente achava que neste ano ia melhorar, mas não melhorou. Piorou", diz Antônio Eduardo Tonielo Filho, presidente do Ceise (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis).
Para esse economista o setor de açúcar e álcool enfrenta a pior crise dos últimos 30 anos.
"Está vinculada a um aumento dos custos de produção nos últimos cinco anos e preços muito baixos relativo à queda do preço internacional de açúcar e também um teto que o etanol tem na produção. Hoje os custos superam o preço que a usina recebe pelo etanol que produz", analisa Roberto Fava, professor de Economia da USP (Universidade de São Paulo).
Sertãozinho, no interior de São Paulo, concentra o maior pólo de indústrias que fornecem peças e equipamentos para as usinas. São 700 fábricas, que empregam mais de 10 mil trabalhadores. 800 já foram demitidos. As empresas cortaram o terceiro turno, hora-extra e tentam, agora, evitar os calotes.
"Só se ele pagar à vista e pagar parte da dívida anterior porque, senão, não tem condições, não temos mais condições de bancar o usineiro", afirma Osvaldo Mazer, dono de uma metalúrgica.
Nesta época do ano, as empresas deveriam contratar trabalhadores, mas o que está ocorrendo em Sertãozinho (SP) é exatamente o contrário. Uma das maiores fábricas da cidade demitiu 85 trabalhadores e agora quer pagar as rescisões em até oito vezes.
E quem perde o emprego, sabe que vai demorar muito tempo para arranjar outro. Se conseguir. "Nunca chegou a esse ponto porque nunca fiquei parado. Nunca fiquei parado, está difícil encontrar emprego agora", conta o soldador Gustavo Ferreira.
Na região de Ribeirão Preto (SP), onde 90% das cidades dependem da cana, alguns segmentos perderam até 60% das vendas.
PERNAMBUCO
Pernambuco, que nas primeiras décadas do século XX liderava a produção de açúcar no Brasil, hoje responde por apenas 3% do que é produzido no país.
Nos últimos dez anos, oito usinas encerraram as atividades no estado. A Unaçúcar, no litoral sul pernambucano, foi a última a fechar. Em março, a usina parou a moagem e deixou 2 mil trabalhadores desempregados.
Nos anos 1980, Pernambuco chegou a moer 25 milhões de toneladas de cana. Na safra 2013-2014 vão ser apenas 14 milhões de toneladas.
O relevo acidentado da Zona da Mata, região que concentra a produção de cana no estado, é apontado como fator decisivo para a decadência da atividade em Pernambuco.
É que isso impede a mecanização do campo diminui a competitividade das usinas pernambucanas em relação as de outras regiões do país, como o Sudeste e o Centro-Oeste.
MINAS GERAIS
Minas Gerais é o segundo maior produtor de açúcar do país e o terceiro na produção de etanol. Só na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba são 22 usinas que empregam cerca de 65 mil trabalhadores.
Nos últimos cinco anos em todo o estado, oito usinas foram fechadas. E, desse total, quatro estão no Triângulo e Alto Paranaíba.
Segundo a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais, foram mais de 8 mil demissões, o que representa também a perda da moagem de 8 milhões de toneladas de cana e cerca de 600 milhões de litros de etanol.
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