Cidades, que são referência no tratamento médico em Mato Grosso do Sul, entram na fila por vaga em hospitais de Campo Grande e os pacientes acabam esperando pelo tratamento por até um ano. Isso porque, em troca de repasses mensais do Ministério da Saúde e das prefeituras, a Capital acaba vendendo aos municípios serviços que não pode oferecer devido à superlotação na rede pública.
Para atender a população, o Estado foi dividido em quatro macrorregiões (Campo Grande, Dourados, Três Lagoas e Corumbá), que foram subdivididas em onze microrregiões. Mesmo assim, as grandes cidades do interior acabam enviando pacientes para o tratamento de alta complexidade para Campo Grande.
O presidente do Conselho Municipal de Saúde de Três Lagoas, Edson Aparecido de Queiroz, afirma que a Capital é uma das piores cidades para fazer a pactuação. “Os hospitais não conseguem atender os próprios pacientes. Eu costumo dizer, que quando surge uma vaga nos hospitais de Campo Grande, três ou quatro já morreram”, lamenta.
Ele acrescenta ainda que pacientes de trauma vascular chegam a ficar mais de ano na fila aguardando atendimento. A solução para o conselheiro é deixar de comprar vaga na Capital e investir no Hospital Auxiliadora do município, que hoje, por exemplo, já tem estrutura para fazer tratamento de câncer.
Já Dourados, a segunda cidade maior do Estado, encaminha em torno de 25 a 30 pacientes por dia para consultas e retornos, de acordo com a pactuação baseada no PPI (Programação Pactuada Integrada). A presidente do Conselho Municipal de Saúde da cidade, Berenice de Oliveira Machado Souza, diz que um grande número de pacientes aguardam por procedimentos diversos, alguns recorrem à Justiça para conseguir o tratamento.
Ainda conforme a conselheira, o HU (Hospital Universitário) da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) recebe recursos do Ministério da Saúde, com participação do Estado e contrapartida do município de Dourados, mas não consegue atender mais que 20% dos serviços que são contratados. “O hospital não cumpre parte da pactuação, o que aumenta, ainda mais, o número de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) que aguardam procedimentos diversos”, afirma.
Ela acrescenta que em 2002 o HU foi inaugurado para oferecer atendimento médico ambulatorial e procedimentos cirúrgicos de pequeno porte em 19 especialidades, entre elas, nefrologia, oncologista e ortopedia. “Precisamos urgente de um hospital que funcione de fato, pois só assim boa parte dos problemas relacionados a saúde, será resolvido”, destaca.
O secretário de Saúde de Dourados, Sebastião Nogueira, informou que o município só encaminha para a Capital pacientes que necessitam de atendimento de alta complexidade, pois a cidade não tem habilitação do Ministério da Saúde e, muito menos profissionais, para atender alguns tipos de especialidades.
Secretário de Saúde de Dourados diz que a cidade não tem habilitação do Ministério da Saúde e, muito menos profissionais, para atender alguns tipos de especialidades.
Secretário de Saúde de Dourados diz que a cidade não tem habilitação do Ministério da Saúde e, muito menos profissionais, para atender alguns tipos de especialidades.
Crise na saúde - O Hospital Evangélico, um dos principais de Dourados, informou recentemente que vive a maior crise financeira da história. Após o depoimento, funcionários realizaram uma passeata pelas ruas do município no dia 31 de julho, para expor a preocupação com a unidade. Estimativas indicam que a dívida total chegue a R$ 40 milhões.
Na semana passada, a superintendência do Evangélico cobrou, em nota, auxílio financeiro do poder público para sair da crise, afirmando que a ação é importante para a continuidade de suas atividades.
O HE alega ter R$ 2,4 milhões para receber da administração municipal por conta de um Termo de Cooperação Mútua para Permuta de Medicamentos assinado em 2009, na época do governo Ari Artuzi, no entanto isso não ocorreu e o hospital teve que entrar com uma ação judicial pedindo à devolução do empréstimo. A unidade ganhou a causa, mas o crédito está em fase de precatório no valor de R$ 2.484.011,03, cujo prazo para o pagamento pode ultrapassar 10 anos.
De acordo com a prefeitura, são repassados para a administração do hospital, em torno de R$ 4 milhões/mês, vindos das três esferas de poder (municipal, estadual e federal). O HE também é gestor do Hospital da Vida e do total de recursos, R$ 2,5 milhões seriam apenas para o Hospital da Vida e aproximadamente R$ 1,3 milhão para custear tratamentos do SUS (Sistema Único de Saúde) no Evangélico.
No entanto, o secretário de Saúde afirma que até agora não houve pedido oficial do HE para suspensão de atendimento ao SUS. “Todos os contratos realizados entre a Prefeitura de Dourados e a empresa para prestação de serviços são cumpridos a risca e os repasses estão em dia”, afirma Sebastião.
Ainda segundo o titular da pasta, o contrato para que o Hospital Evangélico administre o Hospital da Vida vence no dia 31 deste mês. A partir do mês que vem, a Secretária de Saúde assume a unidade através da Fundação de Serviços de Saúde de Dourados. “O Hospital da Vida está com a estrutura precária, equipamentos sucateados e defasados”, afirma.
Ele acrescenta que a unidade já passa por reforma no valor de R$ 190,2 mil com recursos próprios da Prefeitura. “O principal objetivo é melhorar a qualidade do serviço no Hospital da Vida que é referência de urgência e emergência para Dourados e mais 33 municípios da região”, destaca.
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