Logo depois do depoimento prestado por Patrícia Moreira, a jovem de 23 anos que foi flagrada por câmeras de TV chamando o goleiro Aranha, do Santos, de "macaco", o delegado Cleber Ferreira, diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, comentou a conversa entre a torcedora e a Polícia Civil. Segundo ele, Patrícia afirmou que não teve a intenção de ofender o atleta.
"Ela não nega as palavras, mas a intenção não era ofender, ela foi no embalo da torcida. Ela explica que tem canções e o próprio Inter se chama de macaco", disse o delegado.
Uma semana após se envolver em episódio de injúrias raciais contra o goleiro Aranha, a torcedora compareceu à 4ª Delegacia de Polícia Civil chorando muito na manhã desta quinta-feira (4). Ela chegou ao local por volta das 10h acompanhada do advogado e de um dos irmãos. Durante a passagem da jovem por entre jornalistas e curiosos, ouviu-se um grito de "racista".
"Ela viu o movimento da imprensa e ficou nervosa, mas depois se acalmou e prestou o depoimento. A polícia queria saber se ela esteve no Grêmio e se realmente ela confirmava a palavra que foi vista nas imagens, chamando alguém de 'macaco'", completou o diretor.
Patrícia é a sexta torcedora a prestar depoimento sobre o caso. Seu pronunciamento, que durou cerca de uma hora, era o mais aguardado. A jovem teve grande exposição ao ter sua imagem mostrada pelo canal ESPN chamando o goleiro do Santos de "macaco" na última quinta-feira (28), na vitória do time paulista por 2 a 0 sobre o Grêmio, pelas oitavas de final da Copa do Brasil.
Mais duas pessoas serão ouvidas nesta tarde, e outra na sexta-feira (5). O delegado Herbert Ferreira, responsável pelo caso, tem 30 dias para concluir o inquérito. Caso seja necessário, Patrícia pode ser chamada novamente para depor.
"Não adianta ela só dizer que não falou. O delegado Herbert, se tiver outras provas que corroborem, pode denunciar por racismo", disse Cleber.
Protestos
Durante a manhã, representantes de movimentos negros compareceram à delegacia para protestar. Com uma faixa, um grupo de cerca de cinco pessoas ficou em frente ao local.
"Estamos cheios desse racismo das torcidas organizadas. Essas torcidas têm que ser extinguidas", disse Flaviana Santos de Paiva, presidente do movimento Unegro.
Já mais calma após falar com o delegado, Patrícia saiu do local por volta das 11h acompanhada do irmão Nei e de seu advogado, e entrou no carro sem falar com a imprensa. Cerca de seis manifestantes a esperavam na rua e gritaram "vem xingar o macaco" e "racista".
Um esquema de segurança foi montado ao redor da delegacia a pedido da Polícia Civil. "Chamei o GOE [Grupo de Operações Especiais] para proteger a menina, principalmente depois da situação do Grêmio, da decisão [que resultou na eliminação do clube da competição nacional]", afirmou o delegado Herbert Ferreira ao G1 antes da chegada da torcedora.
Seis prestaram esclarecimentos. Na quarta-feira (3), foram três: Rodrigo Rysdyk, líder da torcida Geral do Grêmio, e os torcedores Fernando Ascal e Éder Braga. Os dois últimos também aparecem nas imagens de TV durante as ofensas ao goleiro do Santos.
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