De boné e camiseta azul, o policial federal participa da reconstituição do crime; polícia ainda não informou se ele será indiciado
Os oito tiros que acertaram as costas, braços e nuca do advogado Márcio Alexandre dos Santos, 36 anos, e que provocaram sua morte no dia 26 de outubro em Dourados, a 233 km de Campo Grande, foram disparados por um agente da Polícia Federal, amigo de Márcio e com quem o advogado tinha passado a tarde e a noite de sábado bebendo numa festa. A constatação é do delegado titular do SIG (Serviço de Investigações Gerais), Adilson Stiguivitis, responsável pelas investigações.
Tanto o policial, cuja identidade não é revelada pela polícia, quanto o advogado estavam bêbados, segundo constatação da polícia com base em imagens captadas pela câmera de uma conveniência onde eles passaram, já na madrugada do domingo. Quando foram assaltados, os dois estavam fora da caminhonete do advogado, urinando embaixo de uma árvore, na Rua Albino Torraca, próximo ao cruzamento com a Rua Ciro Melo. A Hilux SW4 de cor preta, ainda não foi recuperada.
Após a reconstituição do assalto e morte do advogado, feita entre a noite de ontem e início da madrugada desta quarta-feira, o delegado afirmou em entrevista coletiva que todos os indícios apontam que ao reagir ao assalto o policial federal matou o próprio amigo e feriu um dos assaltantes, Isaque Daniel Gonçalves Baptista, 22 anos, atingido na barriga. Isaque estava armado, mas não teria feito nenhum disparo. No dia do crime, ele disse que tinha usado droga antes do assalto, mas em novo depoimento ontem mudou a versão, afirmando ele e os comparsas não usaram entorpecentes nem estavam bêbados.
Localizado no hospital na manhã do dia do crime, Isaque foi peça fundamental para a polícia elucidar o caso. Através dele os policiais chegaram aos outros envolvidos, dos quais três estão presos e dois foragidos.
O Campo Grande News apurou que um homem chamado Angelo, de apelido Gordinho, era o outro assaltante presente no local e fugiu com a caminhonete. Quando manobrava o veículo ainda passou sobre o corpo de Márcio Alexandre. Gordinho ainda está sendo procurado pela polícia, assim como um sexto envolvido, de nome Aldair, conhecido por “Bruno”. Isaque disse que ele, Gordinho, Bruno e Emerson Antunes Machado, o “Alemão”, participaram do assalto.
Além de Isaque Baptista e Emerson Machado, o “Alemão”, já foram presos Antonio Barbosa da Silva e Maycon Macedo da Silva. Eles foram presos na semana passada em Dourados e estão no 1º Distrito Policial, mas a polícia não revelou qual foi a participação desses dois no roubo.
No Gol estavam Isaque, Gordinho, Bruno e Emerson. Os dois primeiros ficaram no local onde houve o crime e os outros fugiram no Gol. O bando também é acusado de tráfico e a caminhonete roubada do advogado teria sido encomendada por um receptador paraguaio e trocada por droga.
O delegado ainda aguarda os laudos da perícia, entre os quais os exames de balística, mas deixou claro não existir mais dúvida de que o advogado foi morto pelo amigo. O delegado não informou, entretanto, se o policial será indiciado pela morte do advogado. O episódio do assalto e morte do advogado se transformou em três inquéritos policiais. Um já foi concluído e dois estão em andamento.
Em entrevista à rádio Grande FM, o advogado Maurício Rasslan, que defende o policial federal, tratou o caso como uma fatalidade e resultado de uma sequência de erros. Ele se disse tranquilo com o andamento das investigações e afirmou que o agente federal está muito abalado com a morte do amigo. Segundo Rasslan, o assaltante preso confessou que o advogado morto e o policial foram escolhidos como vítimas porque estavam embriagados.
O caso – O grupo teria passado de um VW Gol. Ao ver Márcio Alexandre e o amigo fora da caminhonete, urinando próximo a um muro, decidiram fazer o assalto para roubar a caminhonete. Isaque e Gordinho desceram do Gol e foram em direção às vítimas. Os outros dois fugiram no Gol.
Como estava com a pistola na cintura, o policial federal reagiu ao assalto e atirou contra os assaltantes. Isaque foi ferido com dois tiros na barriga e não conseguiu usar o revólver calibre 22, carregado com seis munições. O policial continuou atirando e alvejou Márcio Alexandre. Em seguida deixou o local e só se apresentou no 1º Distrito Policial na manhã de domingo.
Gordinho entrou na caminhonete Hylux SW4 e fugiu. Mesmo ferido, Isaque foi a pé até o Hospital do Coração, próximo ao local. No caminho escondeu a arma em uma árvore. Depois foi levado pelo Samu ao Hospital da Vida, onde passou por cirurgia. Ele contou no depoimento de ontem que viu o agente federal atirando e pensou que a pessoa que estava caída no chão era seu comparsa. Só no dia seguinte ficou sabendo que a vítima era o advogado Márcio Alexandre.
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