Antes mesmo de assumir, os novos ministros da área econômica já trabalham em medidas fiscais e monetárias para tentar recuperar a credibilidade do governo e destravar a economia. O pacote — segundo fontes do Palácio do Planalto — estaria sendo desenhado por Nelson Barbosa, que deve ser anunciado na quarta-feira como titular da pasta do Planejamento. Outras mudanças nos quadros do governo também podem ser anunciadas no mesmo dia. Entre elas, a alteração no comando do BNDES, para o qual o atual presidente do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, foi convidado, segundo a fonte.
Apesar de ser uma posição cobiçada por muitos, ele confidenciou a amigos que não deve aceitar o convite do Palácio do Planalto e manterá seu plano original: deixar o cargo, descansar na quarentena e rumar para o lucrativo setor privado. Uma alternativa analisada pelo governo é manter o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, no cargo e substituí-lo daqui alguns meses.
CAFFARELLI TAMBÉM É COTADO
Bendine está de saída depois de quase seis anos à frente do BB. Ultimamente, afastou-se de várias atividades da presidência da instituição e delegou tarefas aos vice-presidentes. Nos últimos meses, o executivo foi alvo de denúncias na imprensa, que incluem: compra de um imóvel com dinheiro vivo por valor abaixo do mercado; transporte de malas de dinheiro; concessão de crédito em condições excepcionais para pessoas próximas; e até autuação e multa da Receita Federal.
Até a semana passada, era dado como certo no governo que quem o sucederia no comando do BB seria o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli. Ele é ex-vice-presidente do BB e ganhou prestígio no Planalto por sua aproximação ao empresariado durante a campanha eleitoral. Segundo uma fonte graduada do governo, o quadro teria mudado nos últimos dias:
— Não descarto o Caffa (como Caffarelli é chamado entre os colegas) no BB, mas hoje, o desenho está mais para o Alexandre Abreu (outro vice-presidente do banco) — disse a fonte sob condição de anonimato.
Alexandre Abreu sempre foi cotado dentro do governo para substituir Bendine um dia, até o surgimento de Caffarelli na disputa. Abreu foi o vice-presidente responsável pelo programa Bom Pra Todos e ganhou pontos com a presidente Dilma. Pelo trânsito no setor produtivo, Caffarelli poderia ficar em um cargo de segundo escalão na Fazenda. A avaliação é que o perfil seria complementar ao do futuro ministro da Fazenda Joaquim Levy, que tem bom trânsito com o setor privado.
— Nessa dança de cadeiras, Caffarelli é um coringa que pode ser usado em vários cargos. Certeza mesmo de qual será só teremos quando a presidente anunciar — disse uma fonte.
O anúncio deve ser feito na quarta-feira, se o governo conseguir concluir até lá a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A explicação entre os assessores da presidente é que seria uma indelicadeza com o demissionário ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciar a troca antes de aprovar o Orçamento do ano que vem feito por ele. Alguns técnicos admitem que o atraso foi decisão de Dilma Rousseff que teria ficado irada com os vazamentos dos nomes dos novos ministros na sexta-feira.
SINALIZAÇÃO IMPORTANTE
Nelson Barbosa já estaria desenhando medidas para inverter o quadro econômico. As mudanças seriam nos campos fiscal e monetário e mostrariam que o Ministério do Planejamento, para o qual foi convidado, teria um papel maior no segundo mandato de Dilma, disse uma fonte.
Barbosa tem de inverter o delicado quadro de rombo nas contas públicas nos últimos cinco meses: uma situação inédita. Os ajustes nessa área — a mais criticada por analistas do mercado — ainda estão em estudo e visam a recuperar a credibilidade.
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Ele ainda arquiteta, segundo fontes, mudanças monetárias. Apesar de ter ficado pouco tempo no Banco Central (BC), e ter feito inimizades ao sair, Barbosa tem experiência nessa área.
Apesar de o BC levar os louros das ações tomadas para evitar o contágio da crise em 2008, Barbosa foi o responsável por grande parte das mudanças. Quem conhece o futuro ministro aposta ele pode repetir o cardápio.
— Será uma sinalização clara de que a política econômica vai mudar — disse uma fonte.
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