Dinheiro desviado através de diárias fraudulentas teria sido usado para pagar implantes de silicone no município de Naviraí, a 366 km de Campo Grande. A cirurgia teria sido feita pela empresária Mainara Géssika Malinski, mulher do presidente da Câmara de Vereadores Cícero dos Santos, o Cicinho do PT. Os dois estão presos, juntamente com outras oito pessoas, acusadas de crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A revelação foi feita pelo ex-assessor da Câmara de Vereadores da cidade, Rogério dos Santos Silva, o “Dill”, homem de confiança de Cícero dos Santos, acusado de chefiar o esquema de corrupção desvendado pela Operação Atenas, da Polícia Federal.
No dia 15 de outubro, uma semana após ser preso, Rogério dos Santos Silva prestou novo depoimento sobre o caso, quando já estava no presídio estadual de Naviraí. No depoimento, ao qual o Campo Grande News teve acesso com exclusividade, Dill fez revelações que complicam ainda mais a situação de Cícero dos Santos, réu por cinco crimes em ação penal que tramita no Fórum local.
O depoimento foi prestado ao delegado da PF, Nilson Zocarato Zanzarin Ribeiro Negrão, e acompanhado pela promotora de Justiça Letícia Rossana Pereira Ferreira e pelo advogado de Rogério, Marcelo Caudas Pires de Souza.
Rogério Dill deu detalhes do esquema de corrupção instalado na Câmara para desviar dinheiro de diárias ilegais e para ficar com parte do salário de servidores nomeados por Cícero dos Santos. No depoimento ele conta também como o grupo de vereadores agia para colocar aliados em cargos estratégicos na prefeitura e confessa que recolhia dinheiro para Cicinho do PT, inclusive fora do município de Naviraí.
Segundo o ex-assessor, que em conversas gravadas pela PF era citado por Cícero dos Santos como de sua “total confiança”, o presidente da Câmara obrigava os assessores a pedirem diárias para viagens que nunca aconteciam e ficava com metade do dinheiro. “Ele dizia: ‘tem que ser assim, como é assim. Se não quiser eu mando embora’. Era emitido um cheque nominal, os funcionários assinavam no verso, trocavam os cheques e davam o dinheiro ao Cícero”, afirmou Rogério Dill.
Silicone – Rogério contou no depoimento que no ano passado, ele e mais dois assessores – Wagner e Priscila Freiderichi, foram obrigados a fazer financiamento bancário em seus nomes e entregar o dinheiro a Cícero dos Santos. “O dinheiro era em prol da mulher do Cícero, Mainara, que fez peito e depois colocou bunda, acredito que tudo com dinheiro público”, afirmou o ex-assessor.
Ele contou que após fazer o financiamento, Priscila foi demitida por Cícero dos Santos e passou a ameaçar o presidente da Câmara, exigindo R$ 4 mil para quitar o financiamento. Rogério contou que ele próprio levou o dinheiro para a ex-assessora.
Cicinho do PT também teria usado dinheiro público para pagar um montador de móveis da cidade, por serviços prestados à ex-mulher do presidente da Câmara. Rogério disse também que usava cheques pessoais para pagar dívidas de Cícero e depois era reembolsado, com dinheiro desviado dos cofres do Legislativo.
Combustível – Outro esquema de corrupção apontado por Rogério Dill existia no abastecimento de combustíveis. Segundo ele, Cícero dos Santos pagava despesas pessoais com o dinheiro destinado ao posto onde os carros da Câmara eram abastecidos.
O ex-assessor relevou que ele próprio fazia o controle de quais veículos tinham sido abastecidos em nome da Câmara e passava o valor para o financeiro do Legislativo emitir o cheque. “Cícero retinha o cheque, usava para pagar suas despesas pessoais e deixava o fornecedor a ver navios. O empresário ligava na Câmara para cobrar, havia discussão com o Cícero, que sempre dava um jeito, não sei como, e pagava o posto”, afirmou.
Ameaçado – Rogério dos Santos Silva afirmou no depoimento que mesmo dentro do presídio se sente ameaçado por Cícero dos Santos. Segundo ele, o presidente da Câmara afirma na cadeia que o episódio “não vai dar em nada” e fala para os demais negarem todas as denúncias. “Ele fala que vai contratar um perito para derrubar tudo isso, que entende de lei e eles vão ter que soltar a gente”, declarou o ex-assessor, que diz temer pela integridade de sua família se Cicinho do PT for solto.
Ao Campo Grande News, o Ministério Público em Naviraí informou nesta segunda-feira que até agora nenhum dos dez acusados de corrupção que estão presos pediu a chamada “delação premiada”, que permite a acusados de crime colaborar com as investigações em troca de uma pena menor.
O esquema de corrupção – No dia 31 de outubro, o juiz Eduardo Magrinelli Junior acatou a denúncia do Ministério Público contra cinco vereadores de Naviraí presos durante a Operação Atenas. O magistrado também aceitou a denúncia contra outras oito pessoas, sendo três delas vereadores que não foram presos, mas acabaram denunciados pelo MP.
Com a medida, as dez pessoas que estão presas, mais três vereadores que permanecem em liberdade, mas já foram afastados da Câmara, passaram a ser considerados réus na ação penal.
O juiz acatou a denúncia contra Cícero dos Santos, os vereadores Marcus Douglas Miranda, Carlos Alberto Sanches, Solange Melo e Adriano José Silvério, contra os ex-assessores da Câmara Wagner Nascimento Máximo Antônio, Rogério dos Santos Silva, o “Dill”, e Thiago Caliza da Rocha; contra Carlos Brito de Oliveira, que prestava serviço de sonorização e gravação de vídeo para a Câmara, e contra Mainara Gessika Malinski. No dia 7 deste mês, Solange Melo renunciou ao mandato.
Magrinelli Junior também acolheu a denúncia contra os vereadores Elias Alves (Pros), o “Elias Construtor”, Gean Carlos Volpato (PMDB) e Vanderlei Chagas (PSD), já substituídos na Câmara pelos suplentes Djalma Marques de Oliveira (PMDB), Deoclécio Zeni (PSDB) e Luiz Carlos Garcia (PSD).
Cícero dos Santos, apontado como o articulador do esquema de corrupção, é o único dos 13 réus que responde por cinco crimes – organização criminosa (pena de 3 a 8 anos), corrupção passiva (2 a 12 anos), peculato (2 a 12 anos), fraude em licitação (2 a 4 anos) e lavagem de dinheiro (3 a 10 anos).
Marcus Douglas, que está em prisão domiciliar por ser advogado, responde por organização criminosa, corrupção passiva e peculato (quando servidor público se apropria de valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desvia em proveito próprio ou alheio).
Adriano José Silvério é réu por corrupção passiva e organização criminosa. A policial civil aposentada e agora ex-vereadora Solange Melo responde por peculato e organização criminosa e Carlos Alberto Sanches, o Carlão, é réu por organização criminosa e corrupção passiva.
Mainara responde por lavagem de dinheiro e organização criminosa e Carlos Brito de Oliveira por fraude à licitação, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Os ex-assessores Wagner, Thiago Caliza e Rogério são réus por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Na semana passada o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul negou habeas corpus aos dez acusados, presos desde 8 de outubro.
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