A quatro quilômetros de onde hoje é inaugurada a Casa da Mulher Brasileira, com investimento de R$ 18 milhões e todo aparato da visita da presidente Dilma Rousseff (PT), um crime brutal chocou a cidade. A prostituta Claudinéia Rodrigues Mendes, uma mulher de 1m55 de altura foi morta a chutes e pedradas por homens de quase dois metros.
O crime resultou em três crianças órfãs, que tiveram de colocar no caixão a tradicional cartinha de escola para o Dia das Mães, e em duas condenações. Mas os acusados ficaram em liberdade devido a habeas corpus. O assassinato foi em maio 8 de maio de 2009.
Os números mostram que o passar dos anos pouco melhorou a vida das mulheres e Mato Grosso do Sul é um dos campeões em violência contra o sexo feminino. Segundo dados da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), em 2013, foram computados 1.180 casos de violência doméstica.
No ano passado, foram 1.464 registros, um crescimento de 24% e o maior desde 2011. Agora, uma casa de 3,7 mil metros quadrados, com capacidade de 250 atendimentos diários, se ergue no Jardim Imá, em Campo Grande, em reposta à tamanha violência.
Dois meses no chão - A agressão dentro das paredes do próprio lar, no bairro Coronel Antonino, marcou em definitivo a história da aposentada Narcisa Canhete Jara, 71 anos. Hoje, na plateia da inauguração da casa de acolhida, ela conta ser a sobrevivente de uma época em que não se metia a colher nos problemas conjugais.
“Não tinha para onde correr, não tinha polícia, não tinha ninguém. Não é como agora”, diz, em alusão aos avanços como a Lei Maria da Penha, que garante direitos a quem é vítima de agressão.
A saída para uma década de violência foi a porta da rua. “Sai de casa com duas crianças, de 6 e 7 anos, e dormi dois meses no chão. Consegui comprar uma cama para as crianças e fazia comida no fogareiro. Tinha que deixar as crianças presas em casa para poder trabalhar”, relata.
O então marido, com que se casou aos 19 anos, logo mostrou o lado violento. “Com dois meses de casado já começou a ser agressivo. Me batia tanto que chegou a trincar o osso do meu rosto”, diz. Hoje, comemora ter conseguido reescrever o destino.
Serviços - O prédio custou R$ 7,937 milhões ao governo federal. Além disto, a União vai repassar R$ 9,592 milhões – em três parcelas – para manutenção da unidade pelos próximos dois anos. A administração ficará com a Prefeitura de Campo Grande.
A Casa da Mulher Brasileira contará com a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), que, finalmente, terá atendimento 24 horas. No mesmo local, as vítimas terão acesso a juizado, defensoria, promotoria, equipes dedicadas ao trabalho psicossocial, ações voltadas à orientação para emprego e renda, brinquedoteca e área de convivência.
Ou seja, ao procurar a Casa da Mulher, a vítima faz o Boletim de Ocorrência e já é encaminhada para o atendimento psicossocial. A prefeitura vai disponibilizar cinco psicólogas e cinco assistentes sociais. Ela também poderá ficar até 48 horas abrigada no local e quando vai embora já sai com a medida protetiva expedida.
A Casa da Mulher Brasileira fica localizada na rua Brasília, sem número, Jardim Imá, em Campo Grande. (Colaborou Jacqueline Lopes).
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