Novos personagens devem ser ouvidos durante esta semana pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que segue os trabalhos após as operações Coffee Break e Lama Asfáltica. Entre os convocados a depor, o Gaeco confirmou que vai ouvir um empresário da comunicação, flagrado em interceptações telefônicas, realizadas pela Polícia Federal, dialogando com o empreiteiro João Krampe Amorim, pivô da Operação Lama Asfáltica e com Elza Cristina Araújo dos Santos, apontada como administradora do esquema de fraudes em licitações.

 

Na Lama Asfáltica, dois empresários foram interceptados em ligações com João Amorim e Elza. Um deles, Carlos Eduardo Naegele, dono do site Midiamax, e o outro André Zahran, sócio da TV Morena. O Gaeco não confirmou qual dos dois será ouvido nas investigações, porém, nos bastidores é confirmado a convocação do primeiro para falar ainda nesta semana.

 

Naegele, segundo as investigações, mantém uma relação próxima com o empreiteiro, sendo flagrado em escutas telefônicas dialogando com Amorim sobre a cassação do prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal.

 

No dia 28 de fevereiro, Amorim foi flagrado em uma ligação com o advogado da Proteco, Ary Raghiant, ex-juiz  eleitoral e ex-secretário da OAB/MS durante a gestão de Fábio trad, "dizendo que os desembargadores teriam medo do site Midiamax".

 

Demonstrando ter uma estreita relação com Amorim, o dono do site Midiamax aparece nas interceptações telefônicas, conversando com o empreiteiro no dia 10 de março de 2014, dois dias antes da cassação do prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP), "alegando que as coisas estão caminhando conforme todos previam".

 

Confira o resumo do diálogo da ligação entre o dono da empresa de comunicação e Amorim:

 

"Falam que as coisas estão caminhando conforme ambos previam e apostavam".

Marcam encontro amanhã no fim do dia.

 

JOÃO diz que terá muita confusão. CARLOS diz graças a Deus.

 

Diz que "ele" já ouviu todo mundo, quando está numa merda procura um, aí tira o cabeludo, aí chama vocês lá e tal...

 

CARLOS diz que acha que não tem outra alternativa e que precisa fazer um trabalho político de convencimento, que vai tentar virar a cabeça de uns caras que estão no foco político e manda JOÃO trabalhar no "varejão", entre os caras que não estão no foco político".

 

No dia 11 de março, Naegele aparece em uma nova ligação conversando com João, dizendo que "é preciso fazer o que tem que ser feito", que segundo as investigações, seria a compra de votos dos parlamentares para cassar Bernal. Além disso, o dono do site Midiamax ressalta que caso ocorra derrota, Bernal viraria herói e prejudicaria todos que "lutaram" pela cassação.

 

Confira a conversa:

CARLOS diz que "o professor está convocando os alunos para dar aula particular, então faz o que tem que ser feito, porque não é hora de... Se houver uma derrota, esse cara vai virar herói e nós vamos se fuder".

 

CARLOS diz que sabe como "nego" é e que tem concorrente, que foi no "narigudo"... mas que tem informações que o professor está chamando neguinho para dar aula particular.

 

CARLOS diz que "se o resultado for desfavorável vai acarretar no empresarial".

 

Após a cassação de Bernal, Carlos volta a conversar com o empreiteiro no dia 13 de março, marcando um encontro para dialogar sobre a 'nova fase", que seria a gestão de Gilmar Olarte (PP), ainda conforme a Polícia Federal.

 

Veja a conversa:

 

CARLOS quer encontrar JOÃO para conversar sobre nova fase.

 

JOÃO diz que amanhã cedo passa na casa de CARLOS.

 

CARLOS diz que precisa combinar para não deixar ponteira.

  

 

André

Um dos sócios da TV Morena, afiliada da Rede Globo, André Luiz Calarge Zahran, foi flagrado nas interceptações conversando  com João Amorim, sobre um "possível recebimento de propina", conforme a Polícia Federal.

 

Já o sócio da TV Morena, André Luiz Calarge Zahran, foi flagrado negociando com João Amorim,  no dia 15 de maio de 2014. Na ligação, André cobra Amorim sobre o dia 15, que seria possivelmente a data para o pagamento de propinas e em resposta, o empreiteiro cobra a interferência em uma série de reportagens exibidas pelo telejornal local.

 

Ligação:

André: Alô?

João: Doutor André. O senhor vai bem?

André: Tudo bem com o senhor?

João: Tudo bem. Agora ouvindo a sua voz melhor ainda. [Risadas]

André: É dia quinze, liguei só para falar que é dia quinze hoje.

João: É hoje?

André: É, João, é.

João: E você me liga de manhã! Não podia ligar meia-noite?

André: Não, João.

João: Oh, André, deixa eu te pedir um favor.

André: Não começa...

João: Foi TV morena lá no...

André: Aonde?

João: Lá no lixão.

André: Ih, de novo?

João: De novo, dando moral para Thiago Verone, um chantagista que está pedindo R$ 10 milhões para nós para ele parar.

André: Ah, vou falar. Ah, vou falar, eu vou lá agora. Eu vou lá agora.

João: Levou uma promotora junto, plantou uma caixa de papelão de 2012 lá em uma área de preservação. Cara, que incômodo. Você vê isso agora e me retorna?

André: Agora?

João: Não dá moral para um vagabundo desse, André.

André: Não, pelo amor de Deus.

João: Tá bom? Ok, tchau.

André: Tchau.

 

Conforme investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Thiago Verrone de Souza seria dono de duas empresas de consultoria ambiental que teria cobrado R$ 5 milhões dos donos da Solurb para parar de iniciar ações judiciais contra a empresa responsável pela coleta de lixo em Campo Grande.

 

Amorim teria participação na Solurb através da empresa LD Construções, registrada em nome de Luciano Dolzan, genro e possível laranja do empreiteiro. Segundo a PF, Amorim retornou para Zahran no mesmo dia cobrando as providências. Ainda, na mesma tarde, André e sua tia, Márcia Zahran, também teriam se deslocado ao escritório de Amorim, onde foram recebidos por Elza dos Santos, funcionária espécie de 'faz tudo' dentro do esquema de corrupção.

 

Em reportagem exibida  no dia 27 de julho deste ano, no telejornal MSTV, 2ª Edição, a afiliada da Rede Globo expõe o caso a público e destaca que, apesar dos diálogos entre o acionista e João Amorim, a emissora nunca impôs censura às reportagens veiculadas no canal. Conforme a nota, alguns veículos noticiosos tentaram manchar a imagem da empresa, que possui uma história no telejornalismo sul-mato-grossense, mas as medidas judiciais cabíveis já foram tomadas. Confira a nota:

 

"A TV Morena luta, respeita e se orgulha da postura de seus profissionais em respeito à verdade dos fatos e à condução da notícia. Este patrimônio, construído ao longo de 50 anos de história, não pode e não será maculado pela irresponsável postura de veículos com interesses diversos a esses, com o único intuito de macular esta nossa premissa básica de nossa empresa. Premissa esta que emana dos acionistas e que jamais interferiu na linha editorial da emissora.

 

Face a interpretações intencionalmente mal conduzidas na matéria publicada, a TV Morena vem a público informar que: em momento algum, recebeu qualquer pedido de seus acionistas para barrar ou influenciar na cobertura de reportagens. Tanto que, no dia 15 de maio de 2014, exatamente no dia de uma das escutas telefônicas, a emissora exibiu uma reportagem sobre irregularidades no funcionamento do aterro sanitário de Campo Grande, denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Assim como também fez, uma semana depois, no dia 22 de maio, quando exibiu uma extensa reportagem sobre a denúncia feita pelo MPF, com base nas investigações da Polícia Federal. E assim seguiu em vários outros momentos em que acompanhou e ainda acompanha os desdobramentos desse assunto. A nota ainda afirma que a TV Morena se pauta sempre pela verdade dos fatos e, neste momento, já está tomando providências jurídicas contra o site que publicou informações que não retratam a realidade".