O Governo do Estado arrecadou R$ 3,1 milhões com o polêmico concurso da Secretaria Estadual de Educação, marcado por denúncias de fraudes e erros grosseiros nas provas. A situação pior com a divulgação do resultado nesta quarta-feira, com a reprovação de 13.396 professores. Somente 74 foram aprovados na primeira fase para as mil vagas oferecidas no certame.
A reprovação de praticamente todos os inscritos surpreendeu os candidatos e dirigentes sindicais, que nunca viram um índice tão irrisório de aprovação. “Não temo como não se indignar”, afirmou, surpreso, Lucílio Nobre, presidente da ACP (Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Pública).
Juíza afasta comissionados por cola em concurso e fraude em licitação
A polêmica começou no dia da aplicação das provas. Candidatos ficaram indignados com os erros nas provas, que iam desde sinais de questões reproduzidas da internet até erros graves de português.
Na prova de Língua Portuguesa, as perguntas faziam menções aos parágrafos 2, 3 e 4, mas o candidato só tinha um parágrafo para analisar. Quem precisou recorrer à tabela periódica de química, não conseguiu enxergar quase nada porque o quadro estava apagado.
O candidato, que não teve sorte de receber o gabarito preenchido, encontrou dificuldade para preenchê-lo, porque não era destacado e vinha junto com a prova.
As provas foram aplicadas pela Funrio, fundação ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Não teve nenhum aprovado para a disciplina de Física, uma área com grande déficit na rede estadual de ensino. Só um professor foi aprovado para as disciplinas de Química, em Maracaju, e Artes, em Campo Grande. Filosofia só teve dois aprovados na Capital.Somente dois foram aprovados em Biologia, em Campo Grande e Bodoquena.
A disciplina com mais aprovados foi Português, com 24 inscritos. História teve 14 aprovados, enquanto Educação Física registrou oito.
A maioria absoluta dos municípios não teve nenhum aprovado. Este é o caso de Corumbá, 4º município mais populoso de Mato Grosso do Sul.
Confira o total de aprovados por área
Português – 24
História – 14
Educação Física – 8
Sociologia – 7
Geografia – 6
Ciências da Natureza – 6
Matemática – 3
Filosofia – 2
Biologia – 2
Química – 1
Artes – 1
Física – 0
No geral, 14.370 professores se inscreveram, mas 900 não compareceram às provas em dezembro. Dos 13.470 que compareceram e fizeram as provas, 13.396 foram reprovados e apenas 74 aprovados.
O presidente da ACP resumiu o sentimento da categoria com o resultado: indignação. Ele disse que o Governo precisa resolver o problema, mas respeitar os 74 notáveis que conseguiram superar as dificuldades do certame e obter o direito de participar da próxima fase do concurso.
O resultado também surpreendeu a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação), que vinha cobrando a realização do processo seletivo para suprir a falta de professores na rede estadual de ensino. “É preciso ver o que aconteceu e entender”, defendeu a vice-presidente da entidade, Sueli Veiga Melo.
No final do ano passado, milhares de professores assinaram o abaixo-assinado pedindo a anulação do concurso realizado pela Funrio. O Governo do Estado ignorou o protesto e não se manifestou.
Na tarde de hoje, dezenas de profissionais fizeram um protesto pacífico para pedir a realização de novo concurso.
O governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que lançou o concurso e assumiu o compromisso de contratar os aprovados durante a campanha eleitoral do ano passado, ainda não se manifestou sobre o polêmico e surreal concurso da educação.
|