O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 não teve questões que possam ser consideradas "polêmicas" ou "ideológicas", mas professores de cursinhos ouvidos pelo G1 destacaram que as questões de história acabaram sendo mais fáceis que no ano passado. Alguns deles também disseram que temas bastante comuns, como Era Vargas e ditadura militar no Brasil, ficaram de fora do exame.
De acordo com os professores, o nível de facilidade das cerca de 15 questões de história – que representam um terço da prova de ciências humanas – se deve ao alto número de questões consideradas pouco conteudistas, ou seja, que poderiam ser resolvidas apenas com a interpretação dos textos, enunciados e alternativas.
O problema, segundo eles, é que o aumento de questões fáceis também aumenta a pressão para que os candidatos acertem as alternativas delas. Isso porque, pela metodologia do Enem, a Teoria de Resposta ao Item (TRI) avalia o percurso do estudante em todas as 45 questões da prova, e pode não conceder a pontuação máxima de uma questão difícil certa caso haja erros em questões mais fáceis.
Prova de ciências humanas menos complexa
Na visão da maior parte dos professores ouvidos pelo G1, a prova de ciências humanas foi menos complexa como um todo.
"A prova de humanas foi um pouco menos complexa", explicou Alexandre Takata, coordenador pedagógico do Curso Maximize. "Não foram apresentadas, por exemplo, questões que demandavam análises conjunturais. Muitas exigiam apenas o conhecimento de um conteúdo ou processo histórico específico."
História
Na opinião de Glauco Pinheiro, professor de história do COC, "se o candidato tivesse calma, olhando a questão, a resposta estava lá. 70% da prova [de história] estava assim. Não precisava de fato ter um conhecido pré-estabelecido para responder a essas questões".
Giba Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, avalia que, "de forma geral, foi uma prova com itens menos complexos em relação a anos anteriores" e que, "muito provavelmente as maiores dificuldades que os alunos enfrentarão são relacionadas àqueles itens em que algumas palavras não fazem parte do repertório dos estudantes".
Alexandre Antonello, coordenador pedagógico do Sistema de Ensino CPV, ressaltou que a exigência de relacionar dois textos para achar a resposta correta, que apareceu em boa parte da prova, "deve ter dificultado um pouco a vida dos alunos".
Um dos motivos da menor complexidade da prova, segundo Rodrigo Magalhães, professor de geografia do Colégio De A a Z, é o fato de que "os textos não estavam tão longos, o que é uma certa tendência dos últimos anos". Magalhães diz que todos os enunciados traziam um texto de apoio, mas eles eram muito diretos.
Por outro lado, Ricardo Felipe di Carlo, professor de história do Objetivo, afirmou que as questões da disciplina tinham exemplos mais fáceis e outros mais difíceis, e considerou a prova "inteligente, com conceitos que premiam o aluno bem preparado". Ele explica que as "habilidades tradicionais do Enem" foram exigidas "de maneira analítica" e que as questões abordaram um "conteúdo amplo, e história antiga, medieval, moderna, contemporanea, do Brasil, de maneira ampla também, do Brasil colônia, a independência, a Constituição de 1988".
Geografia
No caso de geografia, Magalhães, do De A a Z, ressaltou que temas já clássicos do Enem apareceram novamente, como clima, desconcentração industrial, relação sociedade-natureza, a construção de Brasília e a globalização. "o nível da prova eu diria que variou bastante, desde questões bem fáceis até algumas questões difíceis, bem conteudistas".
Por sua vez, Marilu Mendes, professora de geografia do COC, ressaltou que em anos anteriores a quantidade de questões conteudistas foi maior do que em 2019. "Vocês vão ver que tem pouquíssimas assim de cartografia ou geografia física. Foram questões realmente mais de interpretação e do aluno estar inteirado do que está acontecendo na atualidade", explicou ela no programa ao vivo do G1.
Já Antonello, do CPV, ressaltou que as questões de geografia trouxeram termos técnicos como "pegada ecológica", bem conhecida dos alunos, e outros talvez menos comuns, como "franja urbana". Ele destacou a questão sobre a extinção das abelhas, um problema ambiental que foi investigado pelo Ibama em 2014.
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