“O mal-estar começou com uma febrinha e um pouco de tosse. Nada de muito diferente do que estou acostumado a sentir. Mas no terceiro dia a coisa mudou, acordei prostrado e com dificuldade de respirar. Deu positivo para a Covid-19. Daí em diante tudo se agravou de forma muito rápida. Eu já estava naquele momento com comprometimento pulmonar. Não me deixaram sair do hospital. Fui internado na Unidade Semi-intensiva do Sírio-Libanês.Um dia depois, cogitaram me entubar, mas graças a Deus não foi preciso. Fui medicado com cloroquina e antibióticos. Comecei a melhorar no quarto dia da internação. Aos 60 anos de idade, nunca me senti tão mal. Eu já fiquei doente, tenho stents, mas nada se compara a isso. O mal-estar é tão violento que a sensação no auge da gravidade era que estavam tirando um pedaço do meu corpo.”
O depoimento do cardiologista Roberto Kalil, 60 anos, foi dado a VEJA no domingo fim de tarde, 5 de abril, no quarto 842 do hospital Sírio-Libanês. Ele permaneceu a maior parte do tempo sentado e interrompeu a conversa diversas vezes com tosse forte e com fôlego comprometido. Três dias depois foi para casa, onde deverá permanecer até o domingo de Páscoa.
O relato de um dos mais renomados profissionais de saúde do Brasil, exemplifica à perfeição a dramática realidade de homens e mulheres na linha de frente da epidemia pelo novo coronavírus, os médicos infectados. No Brasil, estima-se que pelo menos um em cada dez profissionais de jaleco, incluindo enfermeiras e enfermeiros, estejam contaminados. O país está perto de entrar para o topo de uma dramática lista. Na Espanha, há 20% de contaminação entre profissionais de branco. Na Itália, 15%.
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