O mais novo exemplo da política brasileira vem de São Gabriel do Oeste, a 150 quilômetros de Campo Grande. Ao invés de investigar a queda de muro, construído pela prefeitura ao custo de mais de R$ 400 mil, a Câmara dos Vereadores cassou o mandato do autor da denúncia, o vereador Rogério Rhor (PSD).
Em sessão realizada na tarde desta terça-feira (22), por seis votos a três, o legislativo cassou o mandato de Rhor por quebra de decoro. Vereador mais votado em 2016, com 908 votos, ele foi o mais votado na história do município, conforme a defesa.
O parecer pela cassação foi aprovado por unanimidade pela Comissão de Ética e Decoro, composta pelos vereadores Fernando Rocha, relator, e Rose Pires, ambos do MDB, e Luizinho Freitas (PSDB). No plenário, a votação foi secreta e apenas dois vereadores manifestaram-se contra a cassação, Wagner Trindade (PSDB) e Ângelo Mendes (Republicanos).
A polêmica envolve a forma como o atual prefeito, Jeferson Tomazoni (PSDB), reeleito no mês passado com 10.416 votos (75%), gasta o dinheiro público. Ele investiu mais de R$ 400 mil no muro no entorno do aterro sanitário do município.
Em fevereiro deste ano, Rogério Rhor ocupou a tribuna da Câmara Municipal para denunciar as falhas na construção do muro. No dia 13 de outubro à noite, ele gravou um vídeo empurrando o muro com as mãos, que caiu.
No mesmo dia, segundo o advogado Alexandre Barros Padilhas, uma engenheira do município emitiu laudo condenando toda a estrutura do muro. No entanto, em depoimento à comissão, ela disse que se equivocou e refez o laudo, dizendo que apenas parte do muro estava condenada.
Em qualquer país civilizado, os vereadores estariam preocupados com o dinheiro gasto pelo município em um muro que caiu ao ser empurrado por apenas uma pessoa. A defesa ressaltou que o muro poderia cair sobre uma criança.
No entanto, em São Gabriel do Oeste, após queixa do prefeito Jeferson Tomazoni, os vereadores decidiram investigar o autor da denúncia. Houve queixa por dano ao patrimônio público na Polícia Civil. Não se tem notícia das providências tomada pelo tucano contra a empresa que recebeu mais de R$ 400 mil para construir o polêmico muro.
Com o resultado da sessão de hoje, com seis a três votos pela cassação, o presidente do legislativo, Valdecir Malacarne (DEM), determinou a publicação do decreto cassando o mandato de Rhor. O vereador não participou da sessão porque estava de licença médica por ter contraído a covid-19.
Rogério obteve 908 votos em 2016 e estava no primeiro mandato de vereador. O atual presidente da Câmara foi eleito com 766 votos.
Nas eleições deste ano, o vereador cassado foi o segundo mais votado, com 635 votos. A presidente da Comissão de Ética, Rose Pires, não foi reeleita.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Rhor lamentou a cassação e classificou o dia de hoje como um dos mais tristes na política de São Gabriel. “Quero agradecer cada mensagem de carinho”, afirmou, citando que chegou a receber apoios emocionados de eleitores.
“Acredito na Justiça de Deus”, ressaltou, deixando claro que não deverá se intimidar com a cassação. “Não irei parar”, avisou. Rogério Rhor disse que tem orgulho de ter uma família que nunca se envolveu em escândalos de corrupção. “Nunca roubei”, garantiu.
Padilhas anunciou que vai recorrer ao Poder Judiciário para tentar anular a cassação do mandato. “Houve uma série de vícios processuais no processo” , alegou.
Rhor mobilizou a população local contra o reajuste nos salários do prefeito e dos vereadores em até 6,84% em plena pandemia. A medida causou repercussão e foi condenada pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul.
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