A Covid-19 está diretamente relacionada a alterações neurológicas. Pelo menos é isso que mostram pesquisas recentes.
Segundo um estudo brasileiro divulgado na plataforma MedRvix, o vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, é capaz de infectar o tecido cerebral.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a doença atinge os astrócitos, células em maior presença no sistema nervoso central e responsáveis por fornecer nutrientes aos neurônios, ajudando o cérebro a se proteger de prováveis patógenos.
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores avaliaram o cérebro de 26 pacientes, que morreram em decorrência da Covid-19. A presença do vírus foi confirmada em todas as amostras.
A importância do check-up
Mesmo os pacientes que contraíram a forma leve da doença podem sofrer com problemas cognitivos.
Em uma segunda parte da pesquisa, conduzida na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM), 81 pacientes que tiveram a forma leve da Covid-19 e se recuperaram, passaram por uma ressonância magnética. O exame foi feito, em média, dois meses após o diagnóstico da doença. Um terço dos pacientes ainda relatava sintomas neurológicos ou neuropsiquiátricos como dor de cabeça, fadiga, alteração de memória, ansiedade, perda de olfato, depressão, sonolência, entre outros.
"Qualquer uma dessas situações independem da gravidade dos sintomas que possam ter sido apresentados durante a infecção pela COVID-19, mesmo em pessoas que não apresentaram problemas respiratórios ou circulatórios, o vírus pode ter deixado marcas no cérebro que precisam ser tratadas", ressalta o Fernando Gomes, neurocirurgião do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Além dos sintomas neurológicos, outros problemas como depressão e ansiedade, muito presentes nos pacientes que contraíram a Covid-19, também podem afetar o sistema cognitivo.
"Por isso é essencial investigar através de um check-up do cérebro pós Covid-19, no qual é feito um mapeamento personalizado, com exames específicos e uma análise interdisciplinar, que vai identificar a presença de alterações neurológicas e/ou cognitivas e/ou emocionais, para direcionar o tratamento individual necessário para devolver as capacidades e habilidades que cada paciente tinha antes da doença", afirma.
Quanto mais cedo o problema é identificado, melhores são as chances de melhora nas funções cognitivas.
"Tudo isso é possível em função da neuroplasticidade, com uma estimulação personalizada os neurônios poderão ser recrutados a formar novas conexões para corresponder a demanda de cada um", finaliza o médico.
Consultoria: Fernando Gomes, neurocirurgião do Hospital das Clínicas de São Paulo
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