O papa Francisco recomendou na última quinta-feira (14) tolerância zero em caso de abusos sexuais de crianças, ao se manifestar publicamente sobre a causa que levou uma delegação brasileira ao Vaticano em 24 de junho.
"Por favor, lembrem-se bem disto: tolerância zero com os abusos contra menores ou pessoas vulneráveis. Tolerância zero. Nós somos religiosos, somos sacerdotes para levar as pessoas a Jesus. Por favor, não escondam esta realidade."
O apelo foi feito na quinta-feira (14) para membros de três ordens religiosas, quando fez o apelo para que membros da Igreja Católica não tenham "vergonha" de denunciar casos de abuso sexual e pedofilia.
O pontífice também afirmou que este problema não se resolve apenas deixando o abusador longe da vítima. "Eu te acompanho, você é um pecador, está doente, mas eu devo proteger os outros. Por favor, peço isso a vocês: tolerância zero. Não se resolve isso com uma transferência".
O papa, então, encorajou os religiosos: "Não tenham vergonha de denunciar".
As declarações foram reproduzidas em posts e em vídeo nas redes sociais do Vaticano neste sábado. São também uma forma de engajamento ao movimento #AgoraVcSabe, liderado pelo Instituto Liberta, para acabar com o silêncio em torno da violência sexual contra crianças e adolescentes brasileiras.
O papa reafirmou publicamente a obrigação de denunciar, como havia feito no encontro com a comitiva brasileira integrada pela presidente do Instituto Liberta, Luciana Temer, e pela administradora Lyvia Montezano, que é uma das embaixadoras da causa, vítima de abuso aos cinco anos de idade.
Luciana Temer destaca a importância de ter o papa pessoalmente comprometido com a causa e nos termos conversados durante a visita.
"Tolerância zero com qualquer violência sexual que envolva vulneráveis e quebra do silêncio que cerca esses crimes. Foi sobre isso que falamos com o papa há três semanas. Ficamos muito felizes com essa fala dele agora", afirma a advogada.
A presidente do Liberta diz ainda que a expectativa com a visita era sensibilizar o papa sobre o tema e que objetivo foi alcançado com a declaração papal.
Em Roma, ela enfatizou ao papa o fato de as famílias se calam perante abusos porque entendem que o silêncio protege a unidade familiar -quando só protege o abusador e perpetua a violência.
Na ocasião, o pontífice concordou e foi categórico. "Claro, hay que hablar", disse em espanhol. E seguiu: "A fala cura, precisamos tirar os esqueletos do armário."
Os casos de abusos envolvendo religiosos são recorrentes e o papa já expressou sua indignação contra os abusadores dentro da Igreja Católica.
No ano passado, ele chegou a anunciar medidas para coibir os casos de violência sexual. Entre elas, foi criada uma norma que obriga membros do clero a denunciar suspeitas de violência sexual às autoridades eclesiásticas. O papa também aboliu o segredo pontifício sobre casos de pedofilia.
Por isso, a presidente do Instituto Liberta se emociona com uma fala papal para o mundo no sentido de que o silêncio perpetua tais violências. A cada hora, quatro meninas de menos de 13 anos são estupradas no Brasil, segundo dados de 2021 do Anuário de Violências do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A ativista brasileira ressalta que a maioria dos abusos acontecem dentro das casas e que é importante o pontífice falar sobre isso também. "Falar de pedofilia na Igreja desvia o foco de onde a violência é maior, que é na família, são os dados que temos", diz a advogada. Os dados do Anuário de Violências mostram ainda que 67% dos casos acontecem dentro das residências e 86% são praticados por conhecidos das vítimas.
O movimento #AgoraVcSabe quer dar voz aos adultos que foram vítimas de violência sexual na infância e/ou na adolescência.
A próxima passeata virtual com os rostos das vítimas acontece no dia 28 de julho. Para participar, basta ter mais de 18 anos e gravar um vídeo no site da campanha com a seguinte frase: "A violência sexual contra a criança e o adolescente é uma realidade. Eu fui vítima e agora você sabe!"
Famosos como a apresentadora Angélica, a empresária Luiza Brunet e a ex-masterchef Valentina Schulz aceitaram o convite do instituto para serem embaixadores do movimento. Eles gravaram vídeos para a TV Folha no qual falam sobre seu engajamento na causa e como se reconheceram publicamente como vítimas de abusos.
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