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23/03/2023 - 13:08
Mistério: afinal, o que matou Amarildo Cruz?
Foto: Divulgação
Embora decretada a morte do deputado estadual Amarildo Cruz, do PT, na sexta-feira passada (17), por volta das 12h40 minutos, até agora, quatro dias depois, não ficou pronto ou não foi divulgado o atestado de óbito ou a certidão de óbito do parlamentar. Ou seja, oficialmente, sabe-se que Amarildo morreu, mas ainda é desconhecida a causa da morte dele.
 
E isso tem gerado especulações acerca do assunto. Inclusive, a suspeita de que ele teria contraído infecção hospitalar, daí morreu. Há, ainda, históricos de difícil compreensão que o levasse a óbito, indicando que o parlamentar foi levado para o hospital por sentir dor em um dos dentes e, de lá, saiu morto.
Familiares do deputado, oficialmente, nada divulgaram acerca do quadro clínico do deputado, enquanto ele enfrentava a internação no hospital Proncor.
 
NORMAL
 
Amarildo participou da sessão na Assembleia Legislativa, na terça-feira, uma semana atrás, dia 14. Ouvidos pelo Correio do Estado, pessoas próximas dele disseram que nada viram de "anormal" no parlamentar. Por volta das 22h daquele dia, quarta, ele deu entrada no hospital.
 
 
Não se sabe se ele foi para o Proncor andando, consciente. Nem o motivo da hospitalação. Na quinta (16), pela  manhã e tarde. informações desencontradas dominaram o dia.
Foi divulgado à imprensa um pequeno comunicado, que disse:
 
"O deputado estadual Amarido Cruz (PT-MS) segue internado no Proncor, em Campo Grande. Seu estado de saúde é extremamente preocupante e inspira cuidados, mas ele segue lutando pela vida.
Por opção da família, ele não será transferido [comentários indicam que seria levado para hospital de São Paulo] e continuará internado na UTI do Proncor. Continuamos contando com as orações que até agora têm surtido efeito e ajudado nosso deputado nessa luta. Enquanto há vida há esperança.
 
Obrigado a todos os amigos que estão nos apoiando e reiteramos nosso respeito à imprensa que segue cumprindo sua função social de informar".
 
Foi isso que a família divulgou. Essa nota foi distribuída por volta das 13h da quinta.
Por volta das 14h40 minutos, um novo comunicado sobre o estado de saúde do deputado, desta vez emitido pelo Proncor Hospital. A nota foi assinada pelo diretor clínico Bruno Alexandre da Silva, o cardiologista Eduardo H. C. Elias, também diretor técnico do hospital e a médica intensivista Juliana Pedroli.
Note o que escreveram os médicos:
 
"O deputado Amarildo Cruz permanece internado na UTI deste hospital recebendo tratamento, bem como monitoramento constante. O quadro clínico do deputado Amarildo Cruz é considerado grave e ele está recebendo cuidados intensivos.
 
A equipe médica está acompanhando de perto a evolução do paciente e tomando todas as medidas necessárias para garantir seu bem estar e sua recuperação".
 
No comunicado do hospital Proncor, é dito, ainda, que "o boletim médico só foi divulgado após autorização da família do paciente".
 
Naquela tarde, soube-se, extraoficialmente, que os rins de Amarildo tinha parado e ele era submetido a dialise, procedimento médico que filtra o sangue do paciente.
 
Ainda na quinta-feira (16), circulou a notícia de que o deputado havia morrido. Tanto que a sessão da Assembleia Legislativa foi suspensa pela manhã. E, na sessão da Câmara dos Vereadores de Campo Grande, os parlamentares promoveram "um minuto de silêncio", em homenagem ao petista. Parte da imprensa estadual estamparam manchetes também indicando a morte. Contudo, em minutos surgiu o desmentido.
 
 
A MORTE
 
Já na sexta-feira, dia 17, por volta das 12h40 minutos, o desfecho ruim.
A assessoria de imprensa de Amarildo divulgou nota em que noticiou que os amigos e parentes do parlamentar não queriam ouvir:
 
"Faleceu hoje, no Hospital Proncor, em Campo Grande, o deputado estadual Amarildo Cruz (PT). Ele estava internado desde a madrugada de quarta-feira (15) e sofreu uma parada cardiorrespiratória".
Conforme a nota médica, Amarildo foi internado ainda na terça (14), às 22h, não na madrugada de quarta.
 
QUESTIONAMENTOS
 
Na noite do velório do deputado, ocorrido ainda na sexta-feira, no saguão da Assembleia Legislativa, cerimônia que juntou ao menos 1.500 pessoas, o que mais se comentava era o modo repentino da morte de Amarildo.
 
O ex-deputado estadual Paulo Duarte, do PSB, amigo de Amarildo há quase 40 anos, "bem antes de ingressarmos na política", disse ele, era uma das pessoas que "queria respostas para entender a morte do parlamentar".
 
Duarte disse que durante os tantos anos que conviveu com o amigo, nunca soube que ele enfrentava "problemas sérios de saúde".
 
"Tinha uma questão de pedra no rim ou, algumas vezes, problema de pressão, mas nada comprometedor", afirmou.
 
DOR DE DENTE
 
Nos corredores da Assembleia Legislativa, nos dois últimos dias, o mais recorrente comentário: as causas da morte de Amarildo, que cumpria o quinto mandato na Casa.
A reportagem anotou alguns comentários, entre os quais a de que Amarildo teria saído da última sessão que participara, na terça-feira passada, ido para o gabinete e, de lá saído alegando que estaria "sentindo-se mal" e fora embora para a casa.
 
Mais tarde, o deputado teria sentido sintoma de febre e dor de cabeça. Por volta das 22h deu entrada no hospital. Assim que internado, conforme comentários de pessoas que o conheciam, o deputado teria "sentido falta de ar e, ele mesmo, teria pedido à equipe médica que o intubasse".
 
Outro amigo do parlamentar, que preferiu não ver o nome publicado no jornal, disse que o "o prontuário de Amarildo nem sequer teria sido inserido no sistema informático do hospital. Por que tanto sigilo?", questionou.
 
Prontuário médico é o principal documento que orienta médicos e outros profissionais na prestação de cuidados de saúde. Sem ele, a continuidade no atendimento e tratamento fica comprometida, dada a falta de informações básicas a respeito do paciente, informam os protocolos hospitalares.
 
 
INFECÇÃO HOSPITAL
 
 
Ex-diretor-clínico hospital Regional Rosa Pedrossian, em Campo Grande, Ronaldo Souza Costa, médico e colega do deputado Amarildo, mesmo sem associar a morte do parlamentar com problemas ligados à infecção hospitalar, fez um alerta.
 
"Os hospitais de MS estão doentes porque o sistema de vigilância não funciona", disse Costa que, em 2003, enquanto diretor clínico do hospital Regional, conduziu uma fiscalização acerca de um surto de infecção hospitalar que provocadas dezenas de mortes determinadas por uma bactéria conhecida como pseudomonas aeruginosa.
 
Para o médico, "virou normal infecção hospitalar contraída nas unidades de saúde de MS. Tem gente no corredor, no chão, acompanhante em cima de leito de pacientes, muitas portas de entrada nos hospitais, sem controle".
 
CELSO BEJARANO/CORREIO DO ESTADO
    
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