A delegada Elaine Benicasa, titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (13) falou sobre a importância das vítimas registrarem boletim de ocorrência, como o pedido de medidas protetivas. Vanessa havia solicitado a medida, mas não houve tempo hábil de Caio ser notificado.
“Não foi falta de agilidade na prestação do serviço, mas precisamos aprimorar a agilidade, no que diz respeito a trâmites judiciais nas medidas protetivas”, disse Benicasa. A delegada falou que a jornalista fez tudo certo, pedindo ajuda, mas que não acreditou que corria perigo com o noivo.
A delegada ainda falou sobre comportamentos dos agressores que muitas vezes não são percebidos pelas vítimas. “A nossa experiência faz com que percebamos algumas atitudes, não vistas muitas vezes pela vítima”, disse Benicasa.
Conforme a delegada, Caio prometia que iria se ‘curar’ na igreja, largar as drogas, mas isso não aconteceu. Vanessa não acreditava que poderia ser uma vítima de feminicídio. Elaine Benicasa ainda relatou que será investigado o possível cárcere que Vanessa estava vivendo. Caio estaria proibindo a jornalista de sair de casa. “Outras namoradas dele ainda serão ouvidas”, falou.
Caio do Nascimento Pereira, feminicida no caso da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, morta a facadas, acumulava 11 registros por violência doméstica. Ele foi preso e levado para a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
Os boletins de ocorrência de violência doméstica começaram a ser registrados em 2020. Em um dos casos, uma ex-namorada foi parar na Santa Casa depois de ser agredida pelo músico. A ex-namorada agredida teve queimaduras no rosto e braços, o que parecia ser fricção no asfalto.
A filha da vítima na época relatou que a mãe foi agredida pelo seu ex- namorado na casa dele e que teria pego um motorista de aplicativo até sua casa, momento em que o ex-namorado chegou pilotando uma motocicleta logo atrás da vítima. Nisto ela ligou para a polícia e o agressor fugiu do local.
A vítima, na época, contou que o músico era usuário de drogas e era muito agressivo, e por conta disso ficou traumatizada e faz tratamento médico devido a gravidade do fato.
Uma outra ex-companheira de Caio registrou vários boletins de ocorrência contra ele. Um dos registros foi em 2024, após a separação do casal. Na delegacia, ela disse que conviveu maritalmente com Caio por 1 ano, e que sofria violência psicológica. A mulher havia solicitado medidas protetivas contra o músico.
Em 2023, ele teve outro registro na Deam por violência psicológica contra mulher. Em fevereiro de 2023, a ex-mulher de Caio procurou a Deam depois de ser sistematicamente perseguida por ele. Na época, ele contou na delegacia que conviveu com o autor por aproximadamente 11 anos, sendo que terminaram o relacionamento há cerca de 2 anos e meio.
Ela ainda contou que o autor não aceitava o término do relacionamento; que mesmo a vítima tendo relacionamento com outra pessoa, o autor ficava querendo saber da sua vida e onde estava morando. O autor a agredia verbalmente, dizendo que ela seria uma criminosa, péssima mãe, ser humano deplorável, doente e manipuladora; e lhe fazendo ameaças dizendo que a vítima não imagina o que lhe aguardava.
Feminicídio de Vanessa
A jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, servidora pública que trabalhava no MPT-MS (Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul) morreu na Santa Casa de Campo Grande na noite desta quarta-feira (12), vítima de feminicídio.
Ela foi esfaqueada em casa, no Bairro São Francisco, pelo companheiro, o músico Caio Nascimento, que foi preso em flagrante logo após o crime. Vanessa foi esfaqueada três vezes na região do tórax e depois levada em estado gravíssimo à Santa Casa onde veio a óbito.
As informações são a de que Vanessa tinha relacionamento há algum tempo com o autor e, há quatro meses, passaram a morar juntos na casa dela.
Na madrugada de quarta-feira (12) Vanessa chegou a ir até a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), acompanhada de um amigo, para registrar um boletim de ocorrência por agressão contra Caio.
No período da tarde, ela foi até sua casa, acompanhada do mesmo amigo, para pegar seus pertences. Chegando na residência, ela foi esfaqueada no peito por Caio.
O Corpo de Bombeiros foi acionado, realizou os atendimentos e a encaminhou para a Santa Casa, onde faleceu na noite desta quarta. A Polícia Militar foi acionada e prendeu Caio em flagrante na residência.
Onde procurar ajuda
Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Jardim Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana, para que as mulheres vítimas de violência não fiquem sozinhas e tenham o atendimento necessário.
Funcionam na Casa da Mulher Brasileira uma Delegacia Especializada; a Defensoria Pública; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.
Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180, é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o Brasil, mas não serve para emergências.
As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.
Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.
Confira a localização das DAMs, no interior. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.
Thatiana Melo, Carol Leite
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