O Irã reagiu com veemência aos ataques militares dos Estados Unidos contra seu complexo nuclear subterrâneo de Fordow, próximo à cidade sagrada de Qom. Segundo reportagem da agência Reuters, publicada nesta segunda-feira (23), Teerã considerou que a agressão norte-americana amplia o escopo de alvos militares legítimos para suas forças armadas. Em pronunciamento em vídeo, o porta-voz do quartel-general central das forças armadas iranianas, Ebrahim Zolfaqari, fez um alerta contundente ao presidente dos Estados Unidos: “Senhor Trump, o jogador, você pode começar esta guerra, mas nós seremos os que a terminarão”, declarou, em inglês.

 

A escalada militar entre Washington e Teerã teve como novo estopim o bombardeio norte-americano a três instalações nucleares iranianas, entre elas o complexo de Fordow, alvo de 75 munições guiadas de precisão, incluindo bombas anti-bunker e mais de duas dezenas de mísseis Tomahawk, conforme detalhou o general Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA.

 

Imagens de satélite divulgadas após os ataques indicam severos danos à infraestrutura subterrânea da usina e às centrífugas de enriquecimento de urânio. No entanto, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que ainda não é possível avaliar o impacto nos níveis subterrâneos e que, até o momento, não foram detectados aumentos de radiação fora da área atingida. O diretor-geral da agência, Rafael Grossi, declarou à CNN que aguarda mais informações para uma análise definitiva.

 

Em sua rede social Truth Social, Donald Trump — que está em seu segundo mandato na presidência dos Estados Unidos desde 2025 — comemorou os efeitos da ofensiva: “Danos monumentais foram causados a todos os locais nucleares do Irã. O maior dano ocorreu bem abaixo do nível do solo. Acerto perfeito!!!”. Em declarações anteriores, Trump havia sugerido que o Irã deveria desistir de qualquer retaliação e afirmou que ataques futuros seriam “muito maiores e muito mais fáceis”.

 

Teerã, por sua vez, rebateu a ameaça com ações e advertências. Uma série de mísseis foi disparada contra Israel, ferindo dezenas de pessoas e destruindo prédios em Tel Aviv, embora o Irã ainda não tenha colocado em prática suas duas principais opções de retaliação: atacar diretamente bases militares norte-americanas na região ou bloquear o Estreito de Hormuz — rota por onde passa 20% do petróleo comercializado globalmente.

 

Caso opte por estrangular o estreito, o impacto pode ser devastador para a economia mundial, com uma disparada nos preços do petróleo e um possível confronto direto com a Quinta Frota da Marinha dos EUA, estacionada no Bahrein.

 

A possibilidade de um confronto mais amplo no Oriente Médio, envolvendo diretamente as potências nucleares, acendeu o alerta internacional. O presidente iraniano Ebrahim Raisi enviou seu ministro das Relações Exteriores a Moscou para consultar o presidente Vladimir Putin. Ao mesmo tempo, os preços do petróleo já começaram a reagir: o barril do Brent subiu para US$ 78,12 e o do West Texas Intermediate foi a US$ 74,87, os maiores valores desde janeiro.

 

Embora Teerã negue que seu programa nuclear tenha fins militares, a ofensiva de Washington reacende temores de uma guerra prolongada e de consequências imprevisíveis. Trump, por sua vez, chegou a sugerir que os ataques poderiam resultar na queda do regime iraniano, uma insinuação que apenas agrava o cenário de confronto.

 

Enquanto o mundo observa apreensivo, a troca de mísseis entre Irã e Israel e as ameaças cruzadas entre Teerã e Washington configuram o momento mais tenso da geopolítica internacional desde o início do novo mandato de Trump. A advertência iraniana, ao chamar o presidente dos EUA de “jogador”, deixa claro que a retórica belicosa pode sair do campo da provocação para o da ação concreta a qualquer momento.

 

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