O montador de acessórios de carro Rodrigo de Campos Roque, 23, que disse ter levado um tapa no rosto ontem à noite do governador André Puccinelli, do PMDB, candidato à reeleição, durante uma carreata eleitoral do peemedebista, recorreu ao CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos) Marçal de Souza, para registrar queixa na delegacia da Polícia Civil contra o governador, mas ainda não conseguiu. Até agora, ele surge no boletim policial como agressor.
Para a assessoria jurídica da entidade, que vai recorrer ao Ministério Público Estadual, a polícia pode ter sido influenciada por pressão política, daí negado o registro.
As versões acerca do episódio são conflitantes: o governo afirma que foi o rapaz que agrediu Puccinelli.
A ocorrência policial envolvendo o rapaz e o governador aconteceu ontem, quarta-feira (21), por volta das 18 horas, perto da feira livre do conjunto Aero Rancho, em Campo Grande.
De acordo com a denúncia de Rodrigo Roque, registrada no CDDH por meio de um termo de declaração, Puccinelli distribuía panfletos aos moradores, quando se aproximou dele e disse: “Vocês veem aí que os jornais só falam bem de mim, que estou na frente nesta eleição”. O montador retrucou: “os jornais não falam só bem do senhor, alguns jornais falam que o senhor rouba também”.
O governador, então, segundo versão de Rodrigo Roque, perguntou ao rapaz por que é que ele o teria chamado de ladrão. “Eu expliquei para o governador que eu estava apenas perguntando sobre as notícias dos jornais”.
Dali em diante, segundo o montador de acessórios, Puccinelli pôs a mão sobre seu ombro direito e “apertou forte”. “Senti uma dor muito forte, tentei-me afastar-me... e o governador André Puccinelli me deu um tapa na cara. Eu reagi instintivamente para me desvencilhar da agressão que eu estava sofrendo, dando um chute nas pernas do governador André Puccinelli. Em seguida fui imobilizado e algemado pelos seguranças do governador”, narrou o rapaz ao CDDH.
Dali, ele foi levado para o Cepol (Centro Especializado de Polícia), onde foi posto numa cela com quatro presos. Roque disse que tentou registrar o caso como agredido, mas o delegado que o atendeu a quem identificou como Paulo Henrique Sá, o teria obrigado a assinar um documento dizendo que o agressor seria ele.
“O delegado Paulo Henrique Sá disse que se eu não assinasse ficaria preso. Então eu estava muito preocupado com a minha situação e com a minha prisão na cela do Cepol, assinei o termo apenas para ser solto”.
Rodrigo Roque afirma ainda ter ficado na delegacia das 18h30 minutos de quarta-feira até por volta das 2 horas da manhã desta quinta-feira.
No CDDH
Hoje à tarde, ele procurou a direção do CDDH, que o acompanhou até a delegacia do 5º Distrito Policial. Era intenção do rapaz em registrar o caso como vítima, mas o delegado que o atendeu disse que a ocorrência já havia sido registrada e que se ele fosse provar inocência, "que fizesse isso depois".
A assessoria de jurídica do CDDH informou que a explicação do delegado não tem fundamento jurídico e que já cuidou de casos registrados com duas versões, ora o denunciante aparece como vítima, ora como autor. “Isso é [registrado negado] é inconstitucional”.
O presidente da entidade, Paulo Ângelo, afirmou que o rapaz vai fazer um exame de corpo de delito amanhã – ainda há marcas da algema nos dois braços -, depois ia denunciar o caso ao Ministério Público Estadual e à Corregedoria da Polícia Civil. “Isso só está começando. Não querem registrar a ocorrência por uma questão política”, disse Ângelo.
Outro lado
De acordo com a assessoria de imprensa do governador e com o primeiro registro policial do caso, Rodrigo Roque estaria bêbado e teria atacado Puccinelli sem nenhum motivo aparente. No registro policial, é o rapaz quem aparece como agressor. Roque negou que tenha ingerido bebida alcoólica antes de discutir com o governador.
“Fui lá para beber, mas nem deu tempo”, disse o rapaz que, segundo ele, nunca votou nem vai votar em Puccinelli ou em Zeca do PT, o principal adversário do peemedebista. "Não voto nem no Zeca nem no André. Sempre votei nos pequenininhos, que nunca vencem mesmo", conclui. Ele disse ainde que três testemunhas o viram apanhar do governador e que estariam dispostos a depor em seu favor.
Celso Bejarano |