O maior prêmio da Mega-Sena já pago a um único apostador levou a uma disputa judicial na cidade gaúcha de Fontoura Xavier, onde um grupo de funcionários da prefeitura garante que tem direito aos R$ 119 milhões sorteados no último dia 6 de outubro.
O prêmio foi sacado em Porto Alegre por um morador de outra cidade, São José do Herval, mas a aposta foi feita em Fontoura Xavier, e os funcionários dizem que os números sorteados faziam parte de um bolão no qual apostaram.
Eles afirmam que quando procuraram o colega responsável pelas apostas ele mostrou 18 bilhetes, um a menos do que os que haviam sido combinados. Pressionado, ele apareceu depois com um bilhete de um concurso anterior, com uma assinatura no verso, o que levantou ainda mais suspeitas.
Os 11 funcionários que fizeram o bolão trabalham há mais de 30 anos na Secretaria de Obras de Fontoura Xavier e recebem cerca de R$ 700 por mês. Depois de pressionarem sem sucesso o colega, eles decidiram recorrer à Justiça. O processo corre em segredo e eles preferem não se identificar, mas falam sob condição de anonimato sobre o caso.
- A gente quer saber onde tá o cartão, não estamos acusando ninguém, a gente quer saber onde tá o cartão que sumiu.
O responsável pelas apostas não quis falar à reportagem, e o dono da lotérica afirmou que não pode dizer se as câmeras de segurança registraram quem fez a aposta na hora de registro do bilhete premiado: 16h39 do dia 6 de outubro.
O homem que sacou o prêmio, Hortelino Nicolau, de 66 anos, conhecido como Bino, é dono de um frigorífico em São José do Herval, que agora está arrendado. Depois que saiu o prêmio, ele se mudou para Porto Alegre e levou toda a família. Ele prefere não falar sobre o caso, mas seu advogado diz que o cliente garante que pediu para uma pessoa fazer as apostas para ele. O Departamento Estadual de Investigação Criminal (Deic) do Rio Grande do Sul está investigando o caso e informa que ao menos uma fraude aconteceu em todo o caso: na assinatura do bilhete “avulso” apresentado pelo responsável pelas apostas aos integrantes do bolão. A assinatura foi identificada como sendo do secretário de Obras de Fontoura Xavier, que disse ter mania de assinar papéis e afirmou nada ter a ver com o caso.
O próprio prefeito da cidade, José Godoy da Rosa, disse que falou com os funcionários sobre a polêmica e afirmou que pretende abrir uma sindicância.
- Eu disse pra eles, em reunião com eles, que nós seríamos implacáveis e que a Justiça, se fosse feita, eles iam apodrecer na cadeia.
Os participantes do bolão que dizem ter sido enganados acreditam em uma possível armação para desviar o prêmio. Um deles diz que suspeita que quatro pessoas estariam envolvidas no suposto esquema. Se o prêmio de R$ 119 milhões fosse dividido entre os 11 funcionários, cada um teria direito a R$ 10,8 milhões. Dividido por quatro, o valor individual ficaria em R$ 29,7 milhões.
Independentemente dessa polêmica, o vencedor oficial do prêmio já teve de enfrentar problemas com autoridades. Um total de R$ 2,5 milhões foram bloqueados para pagar dívidas antigas que tinha em impostos. Moradores da região em que morava também cobram supostas dívidas antigas e sonham em ficar com parte do prêmio.
Em março deste ano, outra polêmica envolvendo bolões virou caso de polícia. Uma aposta com os números que dariam direito a um prêmio de R$ 53 milhões não foi registrada pela atendente de uma lotérica em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre. O proprietário e a funcionária responsável por registrar os jogos foram indiciados por estelionato. |