Costa Rica é uma cidade de lendas, memórias e histórias. Desde figuras mais conhecidas às menos faladas, nossa cidade possui uma cativante maneira de mostrar que Cultura e História fazem parte de uma tradição. É história do santo que foge, são lembranças de carros de boi, de estradas de chão batido, de menino que come línguas, mitos que hoje repousam na lembrança de cada morador que viu tudo isso crescer. No mês de junho de cada ano nossa cidade celebra a tradicional trezena em louvor ao santo casamenteiro. Ainda assim, algumas questões permanecem: a partir de quando houve a aceitação de Santo Antonio como o padroeiro da cidade? Qual a importância dessa festa religiosa? Como os fiéis vêem esta manifestação? Passaram-se 38 festas e, de lá pra cá percebemos que sempre houve a preocupação de se melhorar a organização da festividade, mas o que leva centenas de pessoas a participarem todos esses anos do evento? O que os motiva? Ora, a fé! Essa é a uma resposta que logo vem em nossa mente, entretanto, a própria noção de fé elaborada pelos fiéis de Antonio, o casamenteiro, é uma construção histórica e coletiva, que os une e reúne a cada ano, por meio de um sentimento de pertencer a essa comunidade religiosa. Houve um tempo em que o padroeiro era Divino Pai Eterno, mas, optou-se por Santo Antonio. A própria mudança há tempos carrega consigo toda uma representação coletiva, sendo fruto de um tempo histórico e de sujeitos condicionados por seu momento e pela sua própria noção de fé cristã. Não é intenção descaracterizar a celebração a Santo Antonio, mas compreender a importância desta atividade no processo histórico de nosso município, e pensar na identificação dos fieis e sua colaboração durante trezes dias de festa, regada por um rito milenar que insistentemente nos faz refletir e pensar em nossa condição de humanos, pois como lembra os pesquisadores de religiosidade: “(...) O fenômeno religioso, acontecimento universal, encontra-se em todas as culturas e em todos os tempos. Acreditar numa força superior, ter fé, é necessidade inerente ao ser humano, faz parte da própria cultura (...)” (SILVA; ÁVILA; MACIEL, 2010, p. 46) De fato, há uma tradição que consegue atrair os católicos de Costa Rica e região. Hoje notamos uma festa bastante organizada e ainda com direito a concursos culturais, fundamentais para preservação do patrimônio histórico. O apoio dos munícipes mostra a cada dia de festa a força dessa tradição religiosa. Entretanto o desconhecimento das origens e dos elementos fundadores desta celebração, acarreta danos sociais à Memória, pois como nos alerta o historiador Jacques Le Goff, “(...) a ausência de um passado conhecido e reconhecido (...) pode ser fonte de grandes problemas de mentalidade ou identidade coletiva (...)” (LE GOFF, 1990, p. 204). Nota-se a preocupação em lembrar que o passado deu sua contribuição para que no presente pudéssemos celebrar a cada ano a festa de Santo Antonio. Não há como afirmar que seria melhor ou não, caso houvesse outro padroeiro, apenas podemos repensar nos valores e na contribuição de uma geração que deixou suas marcas para o desenvolvimento desse município. Sendo assim, não podemos negar a importância econômica, social e cultural desta celebração católica, que a cada dia recupera valores culturais, muitas vezes esquecidos. O fato dos fiéis cantarem todos os dias pedindo ao para que: “Santo Antonio rogai por nós, intercedei a Deus por nós”, mostra que a trezena possui toda uma representação social revestida de um valor simbólico, que inserido num contexto histórico-cultural, faz parte de uma tradição social elaborada e pensada num determinado espaço e tempo histórico. Abraços e Boa Reflexão! Referências LE GOFF, Jacques. Passado/Presente. História e memória. (Trad) Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. p. 203-231
ÁVILA, Vicente Fideles de; MACIEL, Josemar de Campos; SILVA, Mônica Cristina Adams de Matos da. Religiosidade e sentimento de pertença: considerações acerca da festa em homenagem a São João Batista e da missa afro na comunidade remanescente de quilombo “São João Batista” – Campo Grande/MS. In. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 8, Set. 2010, p. 45-64
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