Falta de profissionais é apontada como causa; Hospital atende com 1/3 de enfermeiros necessários. Complicações no quadro de outros 4 recém-nascidos também são investigadas
A falta de profissionais de enfermagem e outras negligências no atendimento podem ter sido a causa de complicações no quadro de ao menos nove recém-nascidos no Hospital Regional de Ponta Porã, desde o início do ano passado.
Dentre os pacientes, quatro morreram. O hospital atende com 1/3 do número de enfermeiros necessários para a demanda, denuncia o Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem), que deve concluir relatório sobre as constatações feitas nas próximas semanas e encaminhar para o MPE (Ministério Público Estadual).
O Conselho foi acionado pelo MPE para fiscalizar o setor de enfermagem, como parte das investigações do órgão sobre oito casos de recém-nascidos que tiveram complicações ou morreram no Hospital, no período de 2010 até 2011.
Em janeiro do ano passado um recém-nascido morreu após ter parada respiratória devido o parto não ter sido feito no momento correto. A mãe aguardou por ao menos 8 horas até ser atendida por um médico, pois o plantonista informou que ainda não era o momento do parto. O pai da criança denunciou o hospital por negligência.
Mas os casos de falha no atendimento continuam acontecendo, como no último sábado (11), quando mais um bebê foi vítima da falta de estrutura do hospital. O recém-nascido teve de ser transferido dentro de uma banheira, por falta de equipamentos, até o Hospital Universitário de Dourados.
O parto durou mais de 7 horas e foi realizado sem a presença de médico. A criança nasceu prematura e com problema no esôfago. Ela permanece internada em estado grave.
Segundo a presidente do Coren-MS, Amarilis Pereira Amaral, em todos os casos investigados o parto também foi realizado sem a presença de um médico ou de um enfermeiro responsável exclusivamente pelo procedimento.
Ela ainda alerta que o problema não acontece somente na hora do parto, mas a falta de estrutura prejudica todo o atendimento adequado, seja no pré-natal, parto ou na assistência nos primeiros dias de vida.
“A maioria das mortes não aconteceram na hora do parto especificadamente. São crianças que tiveram partos de alto-risco, sem o acompanhamento adequado no pré-natal e assistência pós o nascimento”, esclarece a presidente.
Sem enfermeiros - Após cerca de um mês de fiscalizações, o Coren constatou que o Hospital Regional de Ponta Porã está funcionando com apenas 1/3 dos profissionais de enfermagem necessários para suprir a demanda de atendimentos.
De acordo com Amarilis, o setor da maternidade não tem um enfermeiro responsável e os profissionais trabalham sobrecarregados para tentar atender todo o hospital. Ela ainda destaca que esse déficit de profissionais é o que prejudica todo o atendimento do Hospital.
Segundo a fiscalização do Coren, o Hospital Regional conta com nove setores e 12 enfermeiros. No entanto, cada setor precisa ter no mínimo um enfermeiro responsável durante as 24h.
Como a escala funciona por turnos de quatro horas, seria necessária uma equipe com o triplo de enfermeiros do que hoje existe, totalizando 36 profissionais, segundo dados do Coren.
Como a escala funciona por turnos de quatro horas, seria necessária uma equipe com o triplo de enfermeiros do que hoje existe para atender, totalizando 36 profissionais, segundo dados do Coren.
“Hoje tem 12 enfermeiros pro hospital todo, dividindo isso pelos turnos, ficam dois profissionais por turno para atender todo o hospital. Ou seja, se você chegar no HR em qualquer hora do dia, vai encontrar dois enfermeiros pra atender os nove setores do hospital”, diz.
Como conseqüência disso, outro problema que surge é a inversão de funções dentro do hospital. Amarilis explica que muitos técnicos e auxiliares acabam tendo de assumir a função do enfermeiro, já que este tem de se dividir entre a coordenação de mais de um setor para suprir a falta de profissionais.
“Cada profissional tem as suas funções, mas como falta equipe, cada um tenta se desdobrar para atender os pacientes. O trabalho do enfermeiro é coordenar os setores e cuidar de procedimentos de alta e média complexidade, como um parto”, diz.
Mas o Conselho também constatou um déficit de 50 a 60% no quadro de técnicos e auxiliadores de enfermagem no Hospital Regional.
O Conselho não analisou problemas ligados a falta de equipamentos e também afirmou não ter encontrado nenhuma irregularidade, até o momento, que envolvesse a conduta do profissionais da área.
Resposta - Em entrevista a reportagem, a diretora do Hospital Regional de Ponta Porã, Arminda Maria de Oliveira, afirmou não ter conhecimento e nem ter sido comunicada da vistoria do Coren, como também dos dados obtidos.
Mas ela garantiu que o quadro de enfermeiros do hospital está “completo, conforme exige a demanda de atendimentos”. No entanto ela não informou quantos profissionais trabalham no hospital.
Ela também não deu detalhes sobre a investigação do MPE, mas só adiantou que aguarda os resultados do órgão para saber quais falhas ocorreram nos oitos casos denunciados. |