Marielly Barbosa Rodrigues Conversas pelo computador e telefone revelam que relacionamento amoroso era um segredo. A Polícia está atrás de provas concretas para chegar até o autor
Mesmo após o acesso da Polícia Civil aos telefonemas particulares, do trabalho e também de conversas pelo computador da jovem Marielly Barbosa, o delegado Fabiano Nagata, responsável pelo caso, afirma que poucos indícios foram encontrados para provar a autoria do assassinato da garota de 19 anos, encontrada morta em um canavial no dia 11 de junho.
O delegado acredita que a garota tinha envolvimento mantido em completo sigilo com homem que a teria engravidado. O segredo aumenta a suspeita de que o relacionamento tinha algo de “proibido” e que tudo era feito para não deixar rastros ou ser exposto aos familiares e amigos.
“Ela sabia que era algo que não podia ser revelado. Se outras pessoas viessem a descobrir, seria um boom para todos”, acrescenta o delegado.
Agora, de acordo com Nagata, o desafio é encontrar provas para revelar quem é o pai da criança e, ainda, se ele foi o autor e contou com ajuda de outras pessoas para o crime – possibilidade mais aceita pela investigação.
“Estamos com o leque aberto de suspeitos. Pode ser qualquer um, às vezes uma pessoa que até agora nem citamos e por isso precisamos de informações e provas, sejam testemunhais ou técnicas. Indícios já temos, mas não podemos fazer nada até provar o envolvimento”, explica.
Nagata afirma que o caso Marielly não ficará sem uma solução. Mas para isso, a investigação depende de informações relevantes e está focada nisso. Ainda de acordo com o delegado, medidas judiciais, como quebra de sigilo telefônico e depoimentos são fundamentais para “montar o quebra-cabeça”.
“Pode ser que hoje, amanhã, a qualquer hora apareça alguma coisa relevante que sirva para fechar esse quebra-cabeça”, diz.
Ainda segundo o delegado, amigos e pessoas próximas podem saber de mais detalhes sobre o crime, mas estão calados por medo diante da repercussão do caso na imprensa.
No entanto, Nagata garante que ainda não irá decretar a prisão preventiva de nenhum suspeito, nem tem datas para colher novos depoimentos de testemunhas.
A família de Marielly deve voltar de Alto Taquari – MT ainda nesta semana, mas não foi intimada para prestar novos depoimentos. O que aconteceu? - A partir do laudo e das informações colhidas pela investigação até o momento, o delegado acredita que o crime realmente iniciou com uma tentativa de aborto, mas que acabou tendo complicações e resultou na morte de Marielly.
Ela estava grávida desde ao menos fevereiro e a perícia no corpo constatou que não havia nenhuma lesão, perfuração ou sinais de luta, que indicassem alguma violência antes da morte. O estado do corpo e as roupas com sangue indicam que ela sofreu hemorragia. A jovem estava vestida com trajes típicos de quem faz uma cirurgia.
“A pessoa provavelmente se apavorou quando percebeu as complicações e quis se livrar do corpo”, diz.
Para Nagata, o crime não foi planejado e o autor não tinha a intenção de matar. O local onde o corpo foi jogado – em um canavial em Sidrolândia, próximo a estrada, e a posição do corpo indicam isso.
O fato do autor não ter tentado prestar socorro também pode ser um indicio de que tudo aconteceu em segredo.
“Quando a pessoa faz algo de errado, como procurar uma clínica clandestina, automaticamente fica com medo de procurar ajuda depois”, diz.
Suspeitas - O cunhado da jovem, Hugleice Rodrigues, é tido como o principal suspeito pela investigação. A quebra do sigilo telefônico da jovem revelou diversas ligações entre os dois e o local onde o corpo foi encontrado é conhecido de Hugleice, que trabalha na região.
No entanto, o delegado pontua que as ligações podem ser apenas um reflexo da ligação familiar entre os dois, já que o cunhado mora no apartamento acima da jovem e frequentemente participava de almoços e eventos familiares. Já o local do crime pode se tratar apenas de uma coincidência.
“Como é alguém da família, o caso fica ainda mais delicado. Não podemos afirmar nada no momento, até que haja provas ou mais indícios de que o cunhado mantivesse um relacionamento amoroso com ela”, diz.
Ainda segundo Nagata, a investigação aponta que Hugleice não viajou no dia em que Marielly desapareceu – 21 de maio. Mas os policiais ainda apuram se ele estava em Campo Grande nos dias seguintes.
De acordo com a perícia feita no corpo, Marielly foi deixada morta no canavial dias após seu desaparecimento.
“Mas às vezes ele era o pai da criança, mas não a levou para fazer o aborto, outra pessoa foi acompanhando. Como pode não ter sido nada disso”, acrescenta.
Solução - Nagata ainda reafirma que o trabalho da Polícia Civil não está focado em mapear as clínicas de aborto em Sidrolândia, sob a justificativa de não desperdiçar o empenho das equipes de investigação.
O foco dos investigadores é chegar até o autor e só a partir daí localizar a clínica específica, como também outros participantes do crime.
“Não vamos ficar procurando clínica às escuras. Se fizermos isso o foco da investigação vai mudar para a punição desses locais clandestinos. Precisamos achar o pai da crianças e, com isso, ter indícios sobre qual foi a clínica utilizada”, afirma. |