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Política
01/10/2011 - 11:33
Favores, nepotismo e ameaças marcam duelo político em Alcinópolis
Foto: Simão Nogueira
CGrrandenews

Encravada no coração do Centro-Oeste, a pequena Alcinópolis ganha proporções gigantescas quando o assunto é disputa política.

Há um ano, a briga por poder deixou os limites da cidade de 4.515 habitantes e ganhou projeção a mais de 400 km de distância, com a morte do presidente da Câmara, Carlos Antônio Carneiro. Assassinado há tiros na avenida mais importante de Campo Grande.

Além de crime, o enredo do duelo político é formado por denúncias de nepotismo, favorecimento, ameaças e perseguições. De um lado, está o prefeito em exercício Alcino Carneiro (PDT). Pai do vereador morto, ele acusa o prefeito afastado Manoel Nunes da Silva (PR) de ser o mandante da execução.

Do outro lado da trincheira, o grupo ligado a Mané Nunes reclama que Alcino quer ser o dono da cidade. No centro da disputa, está o comando da prefeitura, que além de oferecer os serviços essenciais de poder público, figura como o maior empregador local e dona do cofre que mais arrecada ICMS Ecológico no Estado.

Na sexta-feira, horas depois de a cidade ser varrida por um temporal que destelhou 100 casas, derrubou árvores e levou a cobertura metálica do estádio, o tema mais palpitante era o foguetório que ecoou em Alcinópolis para comemorar a libertação de Manoel, que ficou mais de dois meses na cadeia. Solto pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), ele está proibido de se aproximar da prefeitura.

Na casa do prefeito afastado, o filho Wallace Aparecido Nunes Prado, de 18 anos, afirma não saber do seu paradeiro. “Nem sabia que ele ia sair ontem. Se soubesse, tinha ficado em Campo Grande", afirma o rapaz. Segundo ele, o pai tem apoio da população e dos aliados políticos, a quem chama de “companheiros”.

Retaliação - A batalha respinga nos servidores públicos. De acordo com Alcino, após o assassinato de seu filho, o então prefeito cortou gratificações de funcionários que aderiram ao adesivo “Alcinópolis pede justiça”. Agora, é a sua vez de usar a tesoura.

“Tinha funcionário dele com até 140% de gratificação. E o total não pode ser mais de 80% a 100%” justifica o prefeito em exercício. Alcino afirma que encontrou a folha de servidores inchada, com custo de R$ 650 mil.

Ele pretende reduzir o quadro de funcionários de 300 para 250 pessoas, para não ferir a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). “Em dois meses, já economizei R$ 115 mil em combustível”, relata. Outras situações pouco mudaram: o chefe de gabinete de Manoel era o sogro; já Alcino nomeou o enteado para o cargo.

Na sessão da Câmara Municipal, o vereador Ênio Queiroz (PR), que também chegou a ser preso acusado de envolvimento na morte do vereador, leu uma lista com nomes de servidores demitidos desde 25 de julho, quando o vice Alcino assumiu o comando da prefeitura.

“Acho infeliz a maneira de como ele toca a administração. Agindo com vingança, retaliação. Acha que Alcinópolis é dele”, dispara. Sobre a prisão, ele alega ser inocente.

Valter Roniz, que se tornou presidente da Câmara após a morte de Carlos Antônio, aponta que há algumas obras paradas na cidade, com a pavimentação asfáltica das ruas. Para ele, a situação é temporária e fruto da transição no comando do Poder Executivo.

“Nosso maior partido é o município de Alcinopolis”, diz, adotando a diplomacia ao falar sobre a disputa política. Roniz também ficou 23 dias atrás das grades por suspeita de participação no crime.

Inimigo íntimo - Na Câmara, que funciona em um prédio geminado com a prefeitura, a situação se inverteu. Manoel Nunes só passou a ter o apoio de cinco dos nove vereadores depois da morte de Carlos Antônio. Agora, é Alcino que vê a oposição com maior número de parlamentares.

No poder legislativo, em poucas horas de sessão, fica claro que é preciso escolher um lado. Depois de ter o contrato para fazer asfalto suspenso pelo prefeito em exercício, o dono da empresa falou por 15 minutos na Casa de Leis. Contra ele, pesava a informação de não ter ao menos um caminhão para executar a obra. “Recebi uma carta convite. O jeito que vou fazer não importa. Posso alugar carregadeira, patrolas, três caminhões”, afirma o empresário Pedrinho.

“Foi falado que o Pedrinho não tem um caminhão. Mas o valor é pago por medição. Deixa ver se vai dar conta ou não. Deixa as coisas acontecer”, declara o presidente do Legislativo, após a explanação do empresário.

No chão, encostado na parede um quadro traz a projeção da nova sede da Câmara, um sonho do vereador morto. Para seu pai, o prédio orçado em R$ 648 mil e em fase de construção foi um dos pivôs do assassinato, pelo qual culpa Mané Nunes.

Prédio da Prefeitura Municipal de Alcinópolis. Local está sob permanente tensão e servidores aguardam desdobramentos.

Casamento arranjado – Hoje em guerra declarada, as lideranças políticas foram aliadas na última eleição municipal. “A gente ia lançar candidato a prefeito, queria uma coligação com o PMDB, mas não conseguimos. O partido achou por bem coligar com o PR, que ofereceu o cargo de vice e a secretaria de obras”, relata Alcino Carneiro sobre a aliança que uniu o prestigio do fundador de Alcinópolis ao poder financeiro de Manoel.

Na versão dele, a parceria política desandou quando seu filho chegou à presidência da Câmara, derrotando o candidato do prefeito afastado. “Ele falou que meu filho não terminaria o mandato”, afirma Alcino. Ele conta que precisou de coragem para assumir a prefeitura. “Ameaçaram me matar”.

Em defesa de Manoel Nunes, a ex-vereadora e diretora da Educativa FM, Maria Cristina Caputo, afirma que o clã Carneiro tem sede de poder e quer se perpetua na cadeira de prefeito. “O maior erro dele foi essa aliança”, avalia.

Na cidade, o pioneirismo da família Carneiro deixa marcas é: possível morar na avenida Maria Carneiro, estudar na escola municipal Alcino Carneiro ou assistir sessão da Câmara no auditório Adolfo Alves Carneiro. Alcino foi vereador em Coxim e primeiro prefeito da cidade. Ele define o ex-aliado Manoel como um aventureiro, que vence eleição por comprar votos.

Maria Cristina afirma ter tido o mandato cassado por fazer oposição ao então prefeito Ildomar Carneiro, primo de Alcino. Sobre Manoel, ela assegura que o processo vai mostrar que não há nenhuma prova que o incrimine. “Acredito cegamente, piamente na inocência do Mané”.

Pelas ruas, é raridade alguém que dê nome e sobrenome quando a entrevista entra no campo da vida política. “É uma cidade pequena, não era para ter tudo isso”, resume um morador.

Aline dos Santos

    
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