Pôr-do-sol em Mato Grosso do Sul Mato Grosso do Sul nasceu por meio de uma lei complementar, de 11 de outubro de 1977, instalada em 1° de janeiro de 1979, que desmembrou o estado do velho Mato Grosso. Surgiram assim duas novas unidades da federação, um novo Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. Mas a história do estado é bem antiga, e pontuada por muitas guerras. A Guerra do Paraguai - uma das mais marcantes na história do Brasil – acorreu aqui, entre outras que aconteceram durante toda a história sul-mato-grossense. A chamada Revolução Constitucionalista de 1932 foi o marco para o estabelecimento do novo estado. O Mato Grosso era um só e as diferença entre o sul e o norte levaram a uma "guerra" interna. Segundo consta, a parte sulista se desenvolvia muito mais rápido que a do norte. O sul contava com uma grande cultura na economia agropecuária e os atuais sul-mato-grossenses queriam essa divisão. Por esse motivo, aderiram à Revolução Constitucionalista, iniciada em São Paulo. Em meados da Segunda Guerra Mundial, tínhamos o Brasil sob o comando de Getúlio Vargas e, por uma jogada de defesa na Guerra, Getúlio montou pólos de estratégia. Ele fez o decreto de nº 8512, que transformava o Mato Grosso do Sul em Território de Ponta-Porã, aumentando assim, o poderio militar nas fronteiras do país. Mas foi apenas na década de 50, que o Mato Grosso se dividiu em dois estados. E oficialmente, em 1977, o presidente Ernesto Geisel sancionou a Lei Complementar nº 31, que criou a Unidade do Mato Grosso do Sul. O professor de história da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, César Benevides, explica que essa divisão aconteceu por questões geopolíticas e não apenas geográficas. Ele aponta ainda que a geografia se redefine a todo momento, e que esse processo é natural. “Isso acontece em vários lugares à medida que o governo vai definindo novas medidas isso vai mudando. O que é muito natural. Essas divisões fazem parte do processo histórico”. Benevides lembra que essa divisão tinha como objetivo fortalecer os dois novos estados e não aumentar rixas e divergências. “Penso que quem imaginou essa divisão o fez para fortalecer os dois estados e não incentivar briga entre os dois”. O professor cita Ramez Tebet e diz que o político, falecido em 2006, era um dos poucos que desde o início vislumbrou tudo isso. “A separação não era para separar os mato-grossenses e sim para unir o sul ao Brasil, dizia Ramez Tebet”, conta Benevides. “Ramez já naquela época tinha uma visão muito clara. Sem esse caráter rançoso que vemos hoje. Um regionalismo medíocre que se criou que não leva a lugar nenhum”, critica. O lado de lá
Em um artigo disponibilizado na internet, o jornalista Onofre Ribeiro aponta que Campo Grande e Cuiabá, apesar de terem sido parte de um mesmo estado, não são exatamente cidades-irmãs. Ele conta que em 1914, a Ferrovia Noroeste do Brasil passou pelo vilarejo de Campo Grande e chegou a Corumbá, modificando o traçado original, que era de Bauru (SP) a Cuiabá. Por questões de fronteira e pela experiência da guerra com o Paraguai, se desviou os trilhos, mas Cuiabá sentiu-se lesada e viu a vila tornar-se cidade de Campo Grande que, a partir de 1932 (época da Revolução Constitucionalista), começaria uma rivalidade histórica com Cuiabá. Passada a divisão, a partir de 1979, os dois estados tomaram vida própria. Mato Grosso do Sul nasceu rico, bem estruturado, com ótimas vizinhanças de São Paulo, Minas e Paraná e orientado para o Sul-Sudeste do país. Já Mato Grosso renasceu endividado com todos os compromissos do passado, com os aposentados, sem infra-estrutura de estradas e de energia e um rumo incerto. A única certeza no começo de 1979 era que um desastre econômico e político era iminente para o estado. Segundo seu texto, falava-se em quebradeira geral de uma economia que nascia para a agricultura, sem indústria, e amarrada nas ofertas de trabalho ligadas ao governo. Aconteceu o contrário. Lá se vão exatos 34 anos da separação (1977-2011) e as mesmas questões continuam no ar. Ao contrário de Onofre, Benevides lembra que os vizinhos ficaram com todos os arquivos históricos da época e que isso sim é riqueza. Ele aponta ainda que ao invés de ficar nessa discussão de MT e MS é preciso começar a conhecer o passado de forma mais responsável e começar a fazer discussões mais relevantes. |