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Saúde
02/01/2012 - 08:07
Na mira da cura para cinco variedades de câncer
Foto: Divulgação
Opinião e Noticia
Ron DePinho é um homem em uma missão. Estranhamente, no entanto, ele ainda não sabe exatamente o que é a missão. O doutor DePinho é o novo presidente da MD Anderson Cancer Centre em Houston, Texas. (Ele assumiu em setembro, já tendo antes administrado o Belfer Institute, parte do Dana-Farber Cancer Institute de Harvard). Consciente do mais conhecido papel científico da sua cidade de adoção, como sede do Controle de Missão do projeto Apollo, ele diz que sua própria missão é parecida com mirar na Lua. Ele mira na cura não de uma, mas de cinco variedades de câncer. O que ele ainda não decidiu é: quais cinco?

Ser possível falar sobre curar até mesmo um tipo de câncer se deve graças ao International Cancer Genome Consortium. Pesquisadores pertencentes a esse grupo, que envolve 39 projetos em quatro continentes, estão usando sequenciamento de DNA de alto processamento para examinar 50 tipos de tumor. Eles estão comparando as mutações em vários exemplos de cada tipo, para descobrir quais são comuns a cada tipo (e, portanto, presumivelmente, a causadora) e quais são meros acidentes. (O mecanismo de reparo de DNA em células malignas frequentemente dá errado, então acidentes do tipo são comuns).

O trabalho do consórcio está progredindo rapidamente, e resultados preliminares para vários tipos de tumor já saíram. Mas tal conhecimento é inútil a não ser que possa ser traduzido em tratamento. É aí que entra o doutor DePinho— já que sua carreira o levou tanto para a sala de reunião quanto para a clínica. Ele é um empreendedor em série: ele ajudou a fundar o Aveo Pharmaceuticals, que está desenvolvendo uma droga para bloquear o crescimento de vasos sanguíneos em tumores, Metamark Genetics, que trabalha no diagnóstico de cânceres, e Karyopharm Therapeutics, que está tentando regular a passagem de moléculas para dentro e fora do núcleo das células, e assim controlar as atividades do núcleo. Seu objetivo ao chegar na MD Anderson, ele diz, é “industrializar” outros aspectos da pesquisa biológica na forma como a genética foi impulsionada pelo sequenciamento de alto rendimento.

Isso custará bilhões de dólares. Felizmente, o estado do Texas está criando um fundo para pesquisas de câncer de 3 bilhões de dólares. Filantropos locais, incluindo T. Boone Pickens e Ross Perot estão contribuindo também. Seu modelo é o Projeto Genoma Humano original, durante o qual o custo de sequenciar cada “letra” genética (um par de bases do DNA) caiu de $ 10 em 1991 para centavos em 2001— e agora é de 3 mil pares de base por centavo. Eles esperam que seus dólares encorajem pessoas a trabalhar com o que são agora, essencialmente, tecnologias artesanais para pensar como eles podem industrializá-las.

Várias técnicas parecem amadurecidas para esse tipo de industrialização. DePinho utiliza camundongos geneticamente modificados (ele os chama de “pequenos pacientes”) nos quais as mutações encontradas em cânceres humanos podem ser replicadas precisamente, mas uma de cada vez, para descobrir a forma de cada peça do quebra-cabeça. Se o processo puder ser passado a uma escala maior irá, como diz DePinho, permitir que os generais genéticos do câncer possam ser distinguidos dos soldados rasos.

Outro campo que tem grande potencial é a tecnologia de imagem—em particular a combinação da tomografia por emissão de pósitrons (que usa açúcar radioativo para medir o quão metabolicamente ativo o tecido é) e a tomografia computadorizada (que usa raios X para mapear a anatomia interna do corpo). Juntos eles poderiam mostrar se o tratamento está reduzindo o consumo de energia do câncer, e, logo, seu metabolismo. Isso fornece uma boa indicação sobre o quão bem o tratamento está funcionando.

Um negócio de família

O próprio DePinho terá mais tarefas no MD Anderson do que apenas lidar com os cinco tipos escolhidos de tumor. O trabalho duro de criar o Institute for Applied Cancer Science, como a nova missão de controle será chamada, será feito por Lynda Chin. A doutora Chin também trabalhou no Belfer Institute. Ela é parte do International Scientific Steering Committee do projeto câncer-genoma. E ela também é a mulher de DePinho e será assistida por 55 outros cientistas do Belfer.

Sobre quais tipos de câncer vão atacar, a decisão será tomada no meio de 2012. Uma consideração crucial será a probabilidade da pesquisa do tumor em questão levar rapidamente ao estágio de “prova de conceito”—ponto no qual poderia ser levado a diante por um negócio centrado em fontes comerciais de capital, ao invés de subsídios que normalmente financiam a pesquisa acadêmica. Naquele momento uma nova firma poderia nascer do instituto, ou uma oferta poderia ser feita por uma empresa farmacêutica já estabelecida, para tentar desenvolver uma nova droga.

Nos últimos anos, grandes empresas farmacêuticas acabaram com seus departamentos de pesquisa. Isso é em parte porque esses departamentos falharam em produzir “drogas de sucesso” e em parte porque os líderes dessas empresas esperavam que companhias de biotecnologia menores, como a que DePinho ajudou a criar, fariam o trabalho difícil de descobrir as drogas para eles e depois se deixariam comprar pelas grandes empresas. Infelizmente as coisas não funcionaram assim. A produção das empresas de biotecnologia tem sido gotejante ao invés de torrencial. DePinho espera mudar isso—e no que diz respeito às novas drogas anti-câncer, a ciência está promissora. Por exemplo, uma droga chamada vemurafenib, aprovado para uso nos Estados Unidos em agosto de 2011, dá meses a mais de vida a pessoas com melanoma em metástase, um dos cânceres mais letais. Vermurafenib é tão poderoso que vem sendo chamado de droga de “Lazarus” em alusão ao personagem bíblico que Jesus supostamente ressuscitou.

Crucialmente para o projeto de DePinho, o desenvolvimento do vemurafenib foi estimulado pela identificação de um gene mutado frequentemente presente em melanomas. Ele espera que o consórcio câncer-genoma gere dúzias de genes similares, e que eles também se provem alvos tratáveis para o desenvolvimento de drogas.

Claro que se DePinho recebesse um centavo para cada vez que uma manchete “cura para o câncer” se provasse prematura, ele não precisaria de doadores. Mas se suas apostas científicas e em adotar métodos empresariais funcionarem, a indústria farmacêutica e milhões de pacientes se beneficiarão. Esse seria um tipo benigno de metástase.
    
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