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Saúde
22/03/2012 - 07:00
Vírus são usados no combate ao câncer
Opinião e Notícia
No inicio de 1900, pouco podia ser feito pelos pacientes com câncer. A menos que os médicos conseguissem remover o tumor, a doença normalmente levava a um fim rápido e inevitável. Mas em dezenas de casos publicados ao longo dos anos, os médicos notaram uma tendência peculiar: pacientes com câncer, por vezes, desfrutavam de um breve alívio de suas doenças malignas quando pegavam uma infecção viral.

Não é uma coincidência. Pesquisadores descobriram que vírus comuns atacam células tumorais. Durante décadas, eles tentaram aproveitar este fenômeno para transformá-lo em um tratamento contra o câncer. Agora, depois de uma longa sequência de falhas, eles estão se aproximando do sucesso em utilizar um vírus geneticamente modificado para combater o câncer.

“É um momento muito emocionante”, disse o Dr. Robert Martuza, neurocirurgião-chefe do hospital de Massachusettes e professor de neurociência na Universidade de Medicina de Harvard. “Eu acho que o vírus vai atuar em alguns tumores”. Segundo Martuza, alguns voluntários já estão em fases avançadas de testes.

As células cancerosas são capazes de se reproduzir descontroladamente, mas há um porém. Elas não podem evitar uma infecção de forma tão eficaz como as células saudáveis. Assim, os cientistas têm procurado maneiras de criar um vírus fraco o suficiente para não danificar as células saudáveis, mas forte o suficiente para invadir e destruir células tumorais, o que tem sido um desafio longo e difícil.

Em 1990, Bernard Roizman, virologista da Universidade de Chicago, encontrou um “gene mestre” no vírus da herpes. Quando este gene é removido, o vírus já não tem a força para danificar as células saudáveis. Observou-se assim que o vírus modificado ficou tão deficiente que só poderia retardar o crescimento das células tumorais, mas não matá-las. Então, em 1996, o Dr. Ian Mohr, um virologista da Universidade de Nova York, encontrou uma maneira de alterar ainda mais o vírus modificado. Roizman expôs várias vezes as células cancerosas a um novo mutante viral que era capaz de se replicar nas células. Mohr e um estudante de doutorado, Matt Mulvey, desenvolveram uma forma para que o vírus também escapasse do sistema imunológico, tornando-o um agente ainda mais potente para combater o câncer.

Ao contrário da quimioterapia, que pode diminuir sua eficácia ao longo do tempo, os chamados vírus oncolíticos se multiplicam no corpo e ganham força quando a infecção é estabelecida. Além de atacar as células cancerosas diretamente, alguns também produzem uma resposta imunitária que tem como alvo os tumores.

Testes

Hoje, vários potenciais vírus que combatem o câncer estão em testes, incluindo dois em fase final. Uma variação alterada do vírus vaccinia –o agente viral que ajudou a erradicar a varíola – está sendo testada contra estágios avançados do câncer de fígado, a terceira principal causa de mortes por câncer em todo o mundo. Em um ensaio recente, a sobrevivência de doentes tratados com doses elevadas do vírus dobrou de 7 meses para 14, em comparação com pacientes tratados com doses baixas. “Ver esse tipo de resposta em um estudo randomizado é simplesmente inédito”, disse Tony Reid, diretor de investigação clínica do Centro de Câncer da Universidade da Califórnia, San Diego, que não tem vínculos financeiros com o fabricante do vírus modificado em laboratório.

Um vírus baseado na descoberta original de Mohr está em fase de testes avançados contra o melanoma. Os dados iniciais mostraram uma taxa de resposta de 26% de regressão do câncer nos pacientes. O vírus também está sendo testado contra cânceres de cabeça e pescoço, muitas vezes difíceis de serem tratados.

De acordo com os pesquisadores, os efeitos colaterais do tratamento com estes vírus são mínimos e incluem fadiga, náusea e dores. “Em comparação com o que acontece com a quimioterapia padrão, sintomas semelhantes aos da gripe são bastante administráveis”, disse Reid, que já tratou centenas de pacientes com vírus oncolíticos.

“Os vírus oncolíticos devem encontrar um lugar importante na medicina, especialmente combinado com outras terapias que visam tumores difíceis e agressivos”, disse Gary Hayward, um virologista do Programa de Pesquisa Johns Hopkins. “Mas a biologia é complexa”, advertiu Hayward. E o progresso deve ser incremental.

Mulvey agora dirige uma empresa de vírus em Baltimore que combate o melanoma e o câncer de bexiga. O maior desafio agora, disse ele, é simplesmente convencer os outros que o novo tratamento não é ficção científica. “Felizmente, esse obstáculo está diminuindo”, disse ele.
    
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